Neste artigo, Rodrigo Corrêa Martins Machado aborda a temática da guerra na poesia de Jorge de Sena, mais especificamente nos poemas “O beco sem saída, ou em resumo…” e “Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya”. Para sua análise, o autor trabalha com o conceito de experiência interior, de Georges Bataille.
Rodrigo Corrêa Martins Machado[1]
1 A escrita poética seniana: desejo e metamorfose
“Aviso em porta de livraria
Não leiam delicados este livro,
sobretudo os heróis do palavrão doméstico,
as ninfas machas, as vestais do puro,
os que andam aos pulinhos num pé só,
com as duas castas mãos uma atrás e outra adiante,
enquanto com a terceira vão tapando a boca
dos que andam com dois pés sem medo das palavras.
E quem de amor não sabe fuja dele:
qualquer amor desde o da carne àquele
que só de si se move, não movido
de prémio vil, mas alto e quase eterno.
De amor e de poesia e de ter pátria
aqui se trata: que a ralé não passe
este limiar sagrado e não se atreva
a encher de ratos este espaço livre
onde se morre em dignidade humana
a dor de haver nascido em Portugal
sem mais remédio que trazê-lo n’alma”
(Jorge de Sena)[2]
Jorge de Sena, poeta cuja vida foi marcada por exílios múltiplos, não deixa de ser um escritor que travou diversas guerras em vida: com os governos fascistas português e brasileiro; com a cena cultural portuguesa, com uma primeira tentativa malograda de obter o título de doutor em literatura, consigo mesmo, entre outros. A escrita poética desse autor possui um compromisso ético inegável com o Outro, o qual ele mesmo afirma na segunda série dos Cadernos de Poesia[3] (à época em que ele era editor e diretor):
A expressão poética, com todos os seus ingredientes, recursos, apelos aos sentidos, resulta de um compromisso: um compromisso firmado entre o ser humano e o seu tempo, entre uma personalidade e uma consciência sensível do mundo, que mutuamente se definem. Tudo que não atinge esse nível não é poesia (CARLOS; FRIAS, 2004, p. 6).[4]
Muito mais do que contemplação, confissão, a escrita poética seniana sempre foi desejo de transformação, de metamorfose. Inegavelmente, ela possui um caráter transgressor, por não se conformar com a realidade em que o poeta viveu. No prefácio a Poesia I, Jorge de Sena revela que, para ele, “à poesia, melhor do que a qualquer outra forma de comunicação, cabe, mais que compreender o mundo, transformá-lo” (1961, p. 11). A poesia de Sena busca ser, como ele mesmo aponta, revolucionária, contestação, espaço em que o poeta se vê livre para transformar o mundo a partir de dentro, “testemunhar do que, em nós e através de nós, se transforma” (SENA, 1961, p. 11).
Joaquim Manuel Magalhães, em Os dois crepúsculos, acaba por corroborar o que digo acerca de escrita seniana ser desejo de transformação, ao proferir que Sena resolve a busca de um modo objetivo de nos dar o sentimento “através de objetos onde faz cristalizar o seu sentimento deles” (1981, p. 55-56). O ensaísta português continua o seu pensamento, proferindo que
Metamorfoses e Arte de Música são o apogeu dessa técnica. Objectos que são quadros, esculturas, obras musicais ou outros produtos constituem a base objectiva de que, ao falar sentidamente, nos atinge em emoção e memória (SENA, 1981, p. 55-56).
A partir do que é dito por Magalhães, é possível ressaltar que o poema seniano é, pois, construção a partir das experiências do autor diante de tais objetos. A obra poética fala não somente do que se vê, do físico, mas muito do modo como o sujeito a vê, sente, experimenta e metamorfoseia em seu interior.
Essas experiências são bases para a construção da matéria poemática e, não só dialogam com o exterior, o físico, o palpável, elas também possuem uma inegável relação com o interior, o interdito, aquilo que não se pode nomear por completo: experiências interiores, conforme postulado por Bataille (1992). Na obra A experiência interior (1992, p. 11), o pensador francês postula que “A experiência interior responde à necessidade em que me encontro – e comigo a existência humana – de colocar em jogo (em questão), sem repouso admissível”. A escrita que coloca a si mesma em uma espécie de crise torna-se espaço de experimentação, estilhaçamento, inquirição e desejo. Acredito que esse conceito batailleano pode ser muito produtivo ao fazer uma leitura da poesia de Sena, lida por muitos enquanto poética do testemunho, uma vez que o próprio vocábulo testemunhar refere-se a manifestar, revelar algo que se tenha visto, sentido ou mesmo pensado e sonhado, é revelação de uma experiência (interior e/ou exterior).
A meu ver, na poesia seniana o testemunho se faz enquanto metamorfose – palavra essa que me encanta em Jorge de Sena –, pois, como tal, o poema está diretamente relacionado à transformação, inclusive, à possibilidade que o autor possui de elevar a sua própria experiência a um nível intelectual e abstrato, a fim de, através dos vestígios dela, buscar um sentido para o mundo labiríntico que se encontra em pleno desconcerto. E é nesse ponto que entrevejo terreno fecundo no diálogo com Bataille, uma vez que desejo neste ensaio investir na ideia de que, em Sena, o próprio poema se faz a partir de experiências interiores, uma vez que é na escrita poemática que “O desejo de conhecer é aí incessantemente misturado ao desejo contrário, o de tirar de cada coisa a parte de desconhecido que ela contém” (BATAILLE, 1992, p. 156).
É possível, a meu ver, pensar a escrita poemática seniana a partir de um outro olhar, uma perspectiva que não mais se debruce no poema como testemunho do mundo exterior em que o poeta viveu (ditadura, guerras, exílio etc.) – sem desconsiderar que tais elementos estão também ali presentes. Acredito ser possível, a partir do conceito de experiência interior, propor um caminho que busque o avesso, o recôndito. Por isso, acredito que por mais que haja, na escrita de Sena, o que Jorge Fazenda Lourenço (2010, p. 106) nomeia de “olhar memorioso do testemunho”, lê-la somente através desse mesmo olhar incorre no risco de reduzi-la a um patamar não muito distante do confessionalismo e, conforme Jorge Fernandes da Silveira (2003, p. 259), a escrita seniana é contrária ao confessional, à culpa, ao autoflagelo de uma subjetividade dividida. A partir dessa investigação acerca das experiências interiores na escrita poética é possível também estabelecer uma leitura da poesia de Sena como violação do interdito, contestação, desejo de ir do conhecido ao desconhecido, espaço em que o sujeito se joga sempre mais para longe em direção ao ponto em que o possível é o próprio impossível, ou seja, trata-se também de uma escrita de tensões de mundo e da própria palavra no interior do poeta.
A partir do poema escolhido como epígrafe para este trabalho é possível destacar uma inquietude revolucionária e transgressora dos interditos, a começar pela notificação cautelosa a constar como título da composição poética, antes da abertura de uma porta possivelmente perigosa aos que naquele espaço desejam adentrar: “Aviso em porta de livraria”. Esse poema se constitui, pois, como uma advertência aos “heróis do palavrão doméstico”, “as ninfas machas”, “vestais do puro”, “os que andam os pulinhos num pé só”, aos sujeitos intimamente ligados ao mundo racional, moralizante e moralizador do trabalho (BATAILLE, 2014, p. 63). Essas figuras são convidadas a não penetrar no poema (na livraria), uma vez que nesse mundo subsiste um fundo de violência, em que aqueles “que andam com dois pés sem medos de palavras” (os poetas, livreiros) estão sempre prontos a exceder os limites, a tencioná-los, a fim de levar o homem aos mais profundos abismos de si mesmo sem nunca deles conhecer o fim.
O principal objetivo deste trabalho é, pois, realizar a leitura de poemas de Jorge de Sena à luz do conceito de experiência interior desenvolvido por Georges Bataille (sobretudo me inclinarei para as obras A experiência interior (1992), As lágrimas de Eros (2012) e O Erotismo (2014) nas quais tal conceituação aparece). Para tanto, me detenho nos traços de guerras representadas nos poemas “O beco sem saída, ou em resumo…” e “Carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya”, nos quais encontro claros conflitos: combate com a palavra, com o homem e com o tempo.
A partir da perspectiva batailleana, é possível cotejar que a poesia do autor de Metamorfoses é local de encontro, espaço em que se convergem experiências interiores e exteriores, lugar em que o poeta é capaz de, com suas vivências, colocar em questão problemas concernentes à própria existência humana. Buscamos também com este ensaio construir uma nova e singular leitura da poesia de Sena.
2 Violações do interdito: amor, erotismo e guerra
A poesia seniana celebra o erotismo, o amor erótico, ao se considerar que o domínio do erotismo é o domínio da violência, da violação e nele o ser elementar está em jogo na passagem da descontinuidade à continuidade. É preciso ponderar que “o erotismo […] é a meus olhos o desequilíbrio em que o próprio ser se coloca em questão, conscientemente” (BATAILLE, 2014, p. 55). Nesse caminho, devo retomar mais uma vez “Aviso em porta de livraria” quando o sujeito poético adverte: “E quem de amor não sabe fuja dele/ qualquer amor desde o da carne àquele/ que só de si se move, não movido de prêmio vil, mas alto e quase eterno”. Versos esses a dialogar com Os Lusíadas: “Vereis amor da pátria, não movido/ De prémio vil, mas alto e quási eterno” (Lus.1954, X, 2). Camões em diálogo com Dom Sebastião, e Sena com os que desejarem adentrar no poema, transparecem que os seus escritos não se correlacionam com nenhuma espécie de prêmio vil, mesquinho, por serem movidos por valores mais altos, como amor, poesia e pátria. Para os dois poetas, o amor é um critério valorativo a reger a experiência: o amor da pátria, o amor da escrita, “qualquer amor […]/ que só de si se move” (Lus.1954, X, 2). Certamente, nem todos são convidados à leitura e, mais certo ainda, é que poucos lerão no poema os traços de metamorfose da experiência que ali estão impressos ou reconhecerão a escrita poemática enquanto tensão do/ com o real.
O sujeito poemático seniano que se embrenhou no mais íntimo de si, tratando “De amor e de poesia, e de ter pátria”, através das experiências interiores que o erotismo lhe proporciona, coloca-se também em questão, digladia-se com a dor e o prazer, com o horror e a volúpia de ser e não ser, de ter pátria e, ao mesmo tempo, se sentir exilado de um país perdido. O poema, enquanto contraposição dos atos e palavras proibidos, desestabiliza, implode a ordem humana racional cuja base é o trabalho. E é exatamente esse limiar entre mundo do trabalho e o sagrado que o poeta deseja que a “ralé” não ultrapasse, que não consiga entrever a ínfima parte da sua profundidade.
A respeito do limiar sagrado que o poema contém e que Sena distingue em “Aviso em Porta de livraria”, Barthes esclarece que o valor da obra na modernidade provém de uma duplicidade que, por sua vez, implica duas margens. Segundo o filósofo, “A margem subversiva pode parecer privilegiada porque é a da violência” (BARTHES, 2004, p. 12), no entanto, o prazer do texto não é impressionado pela violência ou destruição, “o que ele quer é o lugar de uma perda, é a fenda, o corte, a deflação, o fading que se apodera do sujeito no imo da fruição. A cultura retoma, portanto, como margem: sob não importa qual forma” (BARTHES, 2004, p. 12). Ou seja, a partir das palavras do filósofo francês, creio que o sujeito poético seniano não deseja que os leitores e os frequentadores “desavisados” ultrapassem o limite da porta, da violência e se deparem com o lugar da fenda, do corte, a partir do qual a cultura surgirá como a outra margem. A “ralé” conhecerá apenas uma margem e da outra será veementemente exilada.
A partir do que nos diz Barthes, posso conjecturar que há na escrita poética uma camada profunda, uma espécie de terceira margem (e não apenas duas), com a qual se encontrarão somente aqueles que se despirem e se depararem também com a nudez no escrito poético, de forma que as experiências interiores serão comunicadas pela “ação decisiva do desnudamento”, enquanto “estado de comunicação, que revela a busca de uma continuidade possível do ser para além do fechamento em si mesmo” (BATAILLE, 2014, p. 41). É através do desnudamento que os corpos se abrem ao que Barthes nomeia de “lugar mais erótico de um corpo”, “Na perversão (que é o regime do prazer textual) não há ‘zonas erógenas’ […]; é a intermitência, como o disse muito bem a psicanálise, que é erótica: a da pele que cintila entre duas peças […]” (BARTHES, 2004, p. 16-17). O desnudamento dos corpos descontínuos é o que lhes permite essa suspensão, essa interrupção momentânea, erótica, que se completará na imersão de um no outro, no instante em que se confundirão e se aproximarão da continuidade. Aqui o prazer do texto é deliciosamente dionisíaco, lascivo, embriagado.
A poesia seniana cria experiências dionisíacas, desestabilizadoras, sagradas, as quais ordenam o excesso, o sacrifício e a festa para que se formule uma possibilidade de êxtase: “Duplos são todos e um terceiro oculto” e “o poeta foi três ante o papel secreto” (SENA, 2013, p. 693). A poesia é ainda um espaço em que a vertigem se furta à condenação religiosa. Sendo assim, a escrita poética de Sena pode ser lida enquanto metamorfose de experiências, de testemunhos de um sujeito que viaja ao término do possível de si, lida com experiências interiores da ordem do interdito. A escrita torna-se, desta maneira, o espaço que Bataille (1992, p. 17) nomeia de “Si mesmo”, isto é, um local de comunicação em que o sujeito, enquanto não-saber, e o objeto, enquanto o desconhecido, se fundem. O próprio poeta Jorge de Sena, no prefácio a Poesia III, vai corroborar essa visão ao elucidar ao leitor que a sua poesia é um local de comunicação, fusão entre o sujeito e o objeto, um mergulho nos abismos de si:
Reclusa a vida em poesia, não para tirá-la da Vida, mas para encerrá-la dentro do mundo da transfiguração poética, o único capaz de abarcar inteiramente tudo, compreendendo tudo, aceitando tudo, menos aquilo que diminua a liberdade da criação, que o mesmo é dizer da liberdade do ser humano, recluso em poesia […] (SENA,1989, p. 15).
É possível, relacionando-a ao teatro, ler a poesia de Sena enquanto palco em que se encenam experiências interiores. Enquanto tal ela é exatamente amor à liberdade, possibilidade de se ir do conhecido ao desconhecido de si, podendo ser relacionada à figura do deus grego Dioniso, patrono do teatro. As festas orgiásticas oferecidas a essa divindade indicam um necessário desordenamento, embriaguez, delírio. Por isso, sempre foram consideradas transgressoras, recebendo aos poucos um sentido de proibição, o qual por sua vez “obriga à transgressão, e sem ela o acto não teria conseguido o mau clarão que seduz… A transgressão do proibido é que enfeitiça…” (BATAILLE, 2012, p. 69). Nada mais trágico do que o culto a Dioniso, movimento exaltado em que os corpos se perdiam uns nos outros num horror trágico que o erotismo os fazia entrar (BATAILLE, 2012, p. 67).
A partir do movimento orgiástico a envolver o elemento dionisíaco, é possível perceber que as violências recalcadas pelos interditos (como a guerra ou o sacrifício) não eram explosões calculadas. Enquanto transgressões praticadas pelo ser humano, essas violações foram explosões organizadas, “atos cuja eficácia possível apareceu em segundo lugar, mas sem contestação” (BATAILLE, 2014, p. 139). O sacrifício, a guerra e a orgia se aproximam enquanto convulsões explosivas organizadas pelo espírito humano, sem se levar em conta o real ou imaginário efeito delas.
Para Georges Bataille (2014), a guerra, como aproximação do animalesco, não é, a princípio, um empreendimento político, a sua origem é a mesma que a da orgia e do sacrifício; “deve-se à existência dos interditos que se opunham à liberdade da violência mortífera ou da violência sexual. Inevitavelmente, esses interditos determinaram o movimento explosivo da transgressão” (BATAILLE, 2014, p. 139-140). A partir do momento em que passou a integrar um sentido humano, afastando-se da esfera sagrada primeva animalesca, a guerra foi integrada “no ordenamento de causas e efeitos que, sob o princípio do trabalho, construíra a comunidade das obras” (BATAILLE, 2014, p. 139-140).
A guerra, em seu sentido primeiro-dionisíaco, enquanto combate com a palavra, com os homens e com o tempo, é um tema caro à poesia seniana no tocante à transgressão, à oposição aos interditos, à liberdade, enquanto manifestação de experiências interiores. O próprio “Aviso em porta de livraria” nos possibilitou entrever essa relação, que está também presente no poema “O beco sem saída, ou em resumo…”, do mesmo Exorcismos, do qual citarei aqui apenas as estrofes mais representativas para a construção desta leitura:
I
As mulheres são visceralmente burras.
Os homens são espiritualmente sacanas.
Os velhos são cronologicamente surdos.
As crianças são intemporalmente parvas.
Claro que há as excepções honrosas.
II
As pedras não são humanas.
Os animais não são humanos.
As plantas não são humanas.
Os humanos é que têm algo deles todos:
o que não justifica o panteísmo,
nem a chamada «Criação».
III
Humanamente feitas são as coisas,
e as ideias, as obras de arte, etc.
mas que diferença há entre ser-se uma besta na Ilíada
ou no Viet-Nam?
IV
Há por certo os poetas, os santos, e gente semelhante
(os heróis, que os leve o diabo)
mas desde sempre, em qualquer língua,
qualquer das religiões (ilustres ou do manipanso),
fizeram o mesmo, disseram o mesmo, morreram igual,
e os outros que nascem e vivem e morrem
continuam a ser a mesma maioria triunfal
de filhos da mãe.
[…]
VIII
Gloriosos, virtuosos, geniais,
mas burros, sacanas, surdos, parvos.
Ignorados, viciosos ou medíocres,
mas burros, sacanas, surdos, parvos.
Do primeiro, do segundo, do terceiro ou quarto sexo:
mas burros, sacanas, surdos, parvos.
Em Neanderthal, Atenas, ou em Júpiter
burros, sacanas, surdos, parvos.
IX
Canção, se te culparem
de infame e malcriada,
subversiva ou não,
ou de, mais que imoral, desesperada;
se te disserem má, mal inventada,
responde que te orgulhas:
humano é mais que pulhas
e mais que humanidade mal lavada
(SENA, 2013, p. 643).
Esse poema, por ser o único contido em uma seção intitulada “Envoi” – termo que faz remissão direta à estrofe final da forma canção –, já de partida remete o leitor ao afastamento do sujeito lírico do restante do texto a fim de tecer considerações a respeito do corpo poético precedente. Trata-se, pois, de um poema reflexivo em que o testemunho do sujeito, num movimento erótico, metamorfoseia-se em uma guerra contra os interditos.
A segunda estrofe desse poema-canção evidencia que os seres humanos têm a capacidade de se aproximar dos seres naturais (“As pedras não são humanas./ Os animais não são humanos./ As plantas não são humanas./ Os humanos é que tem algo deles todos”). Através dos movimentos transgressivos-dionisíacos é possível que o homem se acerque sacramente de sua animalidade. Contudo, a esfera do trabalho que nos diferenciou do restante da natureza, “que libertou o homem da animalidade inicial” (BATAILLE, 2014, p. 36), parece de alguma maneira macular a relação primeva do ser humano com a guerra. Como é possível ser vislumbrado transversalmente na leitura da terceira estrofe do poema-canção seniano, a própria ideia do fabrico de utensílios e armas, a princípio, e depois de obras de arte, remete ao cerceamento da animalidade, à censura da liberdade que o trabalho, enquanto alicerce do conhecimento e da razão (“Humanamente feitas são as coisas,/ e as ideias, as obras de arte, etc.”), legou ao ser humano. Conforme a estudiosa da obra de Sena, Beatriz Helena da Cruz, a relação de Jorge de Sena com o trabalho em literatura era algo que o alimentava e o constituía e se dá em oposição aos trabalhadores apresentados em seus poemas, “cujos contextos em que foram inseridos levam-nos […] a ter a vida usurpada pelo trabalho alienante” (CRUZ, 2013, p. 5). Ou seja, trabalho literário em Sena pode ser aproximado à transgressão e liberdade, enquanto o trabalho, como condição humana tido com o fazer algo “últil”, pragmático, pode ser relacionado a alienação.
Em meio à guerra na Ilíada ou Vietnam, os homens deixam de lado a transgressão indefinida e sagrada por detrás da guerra relativa aos primórdios tempos da humanidade e se jogam em uma luta que, de tão cega, chega a ser desumana. Paradoxal essa afirmação, por isso, explico-a melhor: aparentemente, nas guerras movidas de forma consciente e organizada, o homem retoma uma “convulsão explosiva sem levar em conta o seu efeito real ou imaginário” que só o sagrado-animalesco possui. No entanto, a lógica que ela segue, desde os relatos homéricos ao menos, não é mais aquela de valor imediato, de transfiguração do valor útil para o último, estético, que a esfera sagrada exige. Nesse sentido, o substantivo besta que Jorge de Sena utiliza na terceira estrofe de “O beco sem saída, ou em resumo…”, mais do que remeter ao plano animal, diz respeito às coisas “humanamente feitas”, relacionando-se ao campo semântico da depravação, estupidez. Sendo assim, “As mulheres são visceralmente burras./ Os homens são espiritualmente sacanas./ Os velhos são cronologicamente surdos./As crianças são intemporalmente parvas” (SENA, 2013, p. 643).
Acredito que o poema seniano em análise, apesar de entrever o sagrado que possa ter havido na guerra, faz, em essência, uma denúncia do uso profano (capitalista) desse mesmo sagrado. A razão se apropriou da guerra, do horror e pavor irracionais que ela causa nos seres, para organizá-la. Logo, “A guerra, em certo sentido, se reduz à organização coletiva de movimentos de agressividade. […] ela se atribui uma finalidade, corresponde ao projeto refletido daqueles que a conduzem” (BATAILLE, 2014, p. 88). Enquanto tal, ela é socialmente aceita, colocando-se a sabedoria a serviço da violência.
O sentido sagrado de transgressão indefinida que havia na guerra, foi profanado pelo ser humano através da “razão”, e a isso o poema se refere ao dizer que “os homens são espiritualmente sacanas” – tomo a palavra “homens” aqui como um todo a definir humanidade. Logo, vocábulos como “heróis”, “cretino humano”, “assassinos”, “gloriosos”, “virtuosos”, “geniais” podem ser associados aos “burros, sacanas, surdos, parvos/ ignorados, viciosos e medíocres” humanos que se afastaram do sagrado e dele fizeram um uso utilitarista, profanaram-no.[5] Do que vale se apropriar da guerra se o homem, apesar de sua infame glória, nela se verá de frente com o horror da morte? Afinal, todos os seres humanos “[…] desde sempre, em qualquer língua,/qualquer das religiões (ilustres ou do manipanso),/ fizeram o mesmo, disseram o mesmo, morreram igual,/ e os outros que nascem e vivem e morrem/ continuam a ser a mesma maioria triunfal/ de filhos da mãe” (SENA, 2013, p. 643).
Outro poema no qual Jorge de Sena condena a profanação do sagrado que há na guerra é, para mim, “Carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya” (Metamorfoses). Nesta composição poemática é perceptível a encenação de experiências interiores, o testemunho metamórfico operado por Sena ao travar contato com o quadro El tres de Mayo de 1808 (Três de Maio de 1808) ou Los fusilamientos de Príncipe Pío. Diante do horror expresso pela pintura elaborada por Francisco Goya, Jorge de Sena abandonou o conhecimento prévio da guerra que possuía, lançando-se ao desconhecido interior que há em si (Figura 1).
Figura 1 – Francisco de Goya. El tres de Mayo de 1808 (Três de Maio de 1808) ou Los fusilamientos de Príncipe Pío, 1814, óleo sobre tela, 268 × 347 cm. Museu do Prado, Madrid – Espanha
Mais do que impressões acerca do horror que tal quadro despertou em Jorge de Sena após seu vislumbre, o poema fala de si, dos sentimentos mais recônditos dentro do sujeito, ou seja, esse poema, enquanto escrita de experiências interiores eróticas, carrega consigo horror e gozo, “aprovação da vida até na morte” (BATAILLE, 2014, p. 35).
Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-la.
É isto o que mais importa – essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga –
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E. por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram
(SENA, 2013, p. 347-351).
Este poema se assemelha a uma produção do gênero epistolar, na qual o sujeito se dirige aos filhos que, metonimicamente, representam toda a humanidade. Nele, certamente estão referências ao três de maio de 1808, dia em que, conta a história, após Napoleão haver invadido a Espanha com o seu exército, uma revolta popular em Madri (que tentava impedir a saída da cidade do infante espanhol D. Francisco de Paula de Bourbon) é duramente reprimida pelas tropas francesas. Nesse dia, todos os madrileños encontrados com armas foram fuzilados. Logo, trata-se de um poema de clara manifestação bélica, no qual Jorge de Sena se desnuda, comunicando aos leitores fragmentos de experiências interiores advindas da pintura de Goya.
Entre muitos elementos manifestados no poema seniano, destaca-se, sobretudo, a guerra em seu caráter sagrado de transgressão da ordem estabelecida. Profanada, ela transformou o combate humano em massacre dos adversários, suplício dos prisioneiros, no qual a crueldade faz-se “o aspecto mais humano”:
Um dia sabereis que mais que a humanidade/ não tem conta o número dos que pensaram assim,/ amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,/de insólito, de livre, de diferente,/ e foram sacrificados, torturados, espancados,/e entregues hipocritamente â secular justiça […] (BATAILLE, 2014, p. 102)
A guerra com seu caráter hostil à vida, com a sua tênue linha contínua, “desenvolveu uma crueldade” de “que os animais são incapazes” (BATAILLE, 2014, p. 102).
O sujeito poético de Sena reconhece a guerra profanada como meio mais cruel de utilitarismo racional, em que povos subjugam outros com desejos de dominação política, econômica: “quem ressuscita esses milhões, quem restitui/ não só a vida, mas tudo que lhe foi tirado?/ Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes/ aquele instante que não viveram, aquele objecto/ que não fruíram, aquele gesto/ de amor que fariam ‘amanhã’” (2014, p. 104). Ao considerar essa visão, relaciono-a com os seguintes preceitos de Bataille (2014, p. 104): “a guerra moderna não tem mais com a guerra de que falei [primitiva] senão relações muito longínquas; é a mais triste aberração, tendo um sentido meramente político”. Isso faz o eu poemático de “Carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya” revelar: “[…] pensando no horror de tantos séculos/ de opressão e crueldade, hesito por momentos/ e uma amargura me submerge inconsolável./ Serão ou não em vão?” (SENA, 2013, p. 347-351). Essa dúvida atesta certamente um receio melancólico de um sujeito que, no presente, ainda lida com o horror, com o dilaceramento humano através dos conflitos armados (faço aqui uma relação com a Segunda Guerra Mundial acontecida à época de escrita do poema, e outras vindouras como a Guerra Colonial entre Portugal e os países africanos de língua portuguesa, a Guerra Fria, entre inúmeras que as precederam e as seguiram).
Há em “Carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya” uma denúncia quanto à profanação do sagrado que a guerra já significou, ou seja, com o caráter transgressor do interdito que os homens destruíram ao racionalizar as batalhas. Enquanto movimento organizado, moralizado, a guerra praticamente se torna um novo interdito que os homens têm que violar para fazerem suas experiências interiores. Dessa forma, o próprio desejo do sujeito no poema de que o mundo seja “um simples mundo,/ onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém / de nada haver que não seja simples e natural. /Um mundo em que tudo seja permitido, / conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,/ o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós” me aparece como uma forma de transgressão dionisíaca em direção ao sagrado, uma vez que tem intenção de romper os interditos humanos referentes aos próprios conflitos organizados (guerras mundiais, guerras frias, “terrorismos”, entre muitos outros exemplos). Isso me remete aos Os Lusíadas, pois ali Camões também apresenta criticamente três[7] guerras: Ourique, Salado e Aljubarrota. Nas duas primeiras, Vasco da Gama conta as vitórias portuguesas contra mouros e, na terceira delas, contra cristãos-castelhanos. O intuito em tais guerras, para Cleonice Berardinelli (2000), era a dilatação da fé e do império, ou seja, o anseio português de expansão econômica (uma vez que a expansão da fé também escamoteava o desejo por poder) afasta esses eventos de qualquer relação com o sagrado. Mais do que transgressão esses conflitos armados significaram dominação, massacre, interesses político-econômicos, movimento organizado e moralizado ao qual o poeta, na epopeia camoniana, denuncia.
Assim como em Camões, o sujeito poético de Sena em “Carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya” expressa o desejo de negar a ordem do trabalho e a racionalidade por trás do movimento bélico da guerra e, para Bataille (2012), isso subverte tal ordem, aproximando-se da esfera do sagrado. Tratar-se-ia de uma transgressão religiosa aos modos de Dioniso na Antiguidade, já que “a própria religião tem base subversiva; desvia do cumprimento das leis” (BATAILLE, 2012, p. 74). Ao erotismo religioso rejeitado pelos homens, ao ser reduzido à moral utilitária, maculando o seu caráter sagrado por uma mancha imunda, o sujeito poético quer sobrepor “a liberdade e a justiça”, à “fiel/ honra de estar vivo” (SENA, 2013, p. 347-351). Para ele, o homem destruir a sua própria raça é a maior das profanações do sagrado modo de ser e estar no mundo, uma vez que em “A morte, o espaço, a eternidade” (SENA, 2013, p. 155). o sujeito poético seniano enuncia: “De morte natural ninguém nunca morreu”.
À luz de Bataille, é possível perceber que o poema em cena (“Carta aos meus filhos…”) não versa simplesmente sobre o 13 de maio, a invasão napoleônica ou mesmo sobre o ato de guerrear em si, ele traz à baila a percepção do eu lírico sobre o objeto, o quadro de Goya, a violência dos fuzilamentos. E isso vai ao encontro do que coloca Joaquim Manuel Magalhães no início do presente ensaio quando ele destaca que, em Jorge de Sena, o poema é elaborado partindo da experiência subjetiva (interior?) do autor.
Considerações finais
Houve homens, e poetas, que desafiaram a lógica do trabalho, da guerra organizada, que violaram o mundo racional, que se sacrificaram em defesa dos outros, que “amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,/ de insólito, de livre, de diferente” (SENA, 2013, p. 347-351). Na acepção batailleana, foram seres que se entregaram ao erotismo, à anulação do eu, levaram a vida intensamente sempre através do gasto inútil de energia. Desde sempre, estes foram os expulsos das repúblicas, os rechaçados pela sociedade, os marginalizados, os que “foram sacrificados, torturados, espancados,/ e entregues hipocritamente â secular justiça, /para que os liquidasse ‘com suma piedade e sem efusão de sangue’” e/ou tiveram “os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido, /ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória” (SENA, 2013, p. 347-348).
A partir dos poemas analisados neste trabalho, sob a luz dos preceitos batailleanos, acredito que em Jorge de Sena o próprio poema se faz enquanto transgressão, retorno a uma esfera sagrada através das experiências que o constituem. Sendo assim, a escrita seniana se faz guerra no que de sagrado essa palavra possa um dia ter carregado, negando qualquer comunhão com a moral do trabalho, possibilitando a liberdade ao homem para, a partir da sua experiência, abrir cada vez mais o horizonte aos seus. A experiência, testemunho e metamorfose no poema se dão enquanto revolta do espírito à ação e contra o apaziguamento das próprias experiências interiores que significaria também morte do desejo humano de se conhecer, apatia elevada à impotência. Escrever um poema “aos filhos”, à humanidade, dando a conhecer minimamente elementos concernentes às suas próprias experiências interiores, por exemplo, é absurdamente violento, no que diz respeito à infração da transgressão. É criar um mundo outro a partir do fragmentado e caótico em que se vive, é buscar na e através da violência transgressora alguma proximidade com o sagrado. Por isso o sujeito poemático de Jorge de Sena adverte:
o mesmo mundo que criemos/ nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa/ que não é nossa, que nos é cedida/ para a guardarmos respeitosamente/ em memória do sangue que nos corre nas veias,/ da nossa carne que foi outra, do amor que/ outros não amaram porque lho roubaram (SENA, 2013, p. 347-351).
Como é possível notar, os traços de guerra na poesia seniana, analisadas ao longo do ensaio, permitem-me abordar a escrita da metamorfose em Jorge de Sena enquanto refúgio e construção de experiências interiores. Ela é feita de imagens, de história, de política, da vida objetiva e real, suspendidas “da ruína interior que dá acesso ao desconhecido” (BATAILLE, 1992, p. 157). Como possessão de ruínas, a poesia é fluida, e nela “a verdade é sempre outra”, é sempre um vir a ser, não sendo. Através desse caráter de devir, de verdade inalcançável, de sinceridade-insincera, que o poeta se conhece interminável.
Referências
BARTHES, R. O prazer do texto. Trad. Jaime Ginsburg. São Paulo: Perspectiva, 2004.
BATAILLE, G. O erotismo. Trad. Fernando Scheibe. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
BATAILLE, G. As lágrimas de Eros. Trad. Aníbal Fernandes. Lisboa: Sistema Solar, 2012.
BATAILLE, G. A experiência interior. Trad. Celso Libânio Coutinho et al. São Paulo: Ática, 1992.
CAMÕES, L. V. de. Os Lusíadas. Emanuel Paulo Ramos (org.). 2. ed. Porto: Porto Editora, 1954.
CARLOS, L. A; FRIAS, J. M. Cadernos de Poesia: reprodução fac-similada. Porto: Campos das Letras, 2004.
BERARDINELLI, C. Estudos camonianos. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
CRUZ, B. H. S de. Trabalhadores do século XX em poemas de Jorge de Sena. Nau Literária, Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 1-25, jan./jun. 2013.
GOYA, F. El tres de Mayo de 1808 [Três de Maio de 1808] ou Los fusilamientos de Príncipe Pío, 1814. Original de arte, Óleo sobre lienzo, 268 x 347 cm. Museo del Prado. Disponível em: https://www.museodelprado.es/coleccion/obra-de-arte/el-3-de-mayo-en-madrid-o-los-fusilamientos/5e177409-2993-4240-97fb-847a02c6496c. Acesso em: 11 fev. 2016.
LOURENÇO, J. F. A poesia de Jorge de Sena: testemunho, metamorfose, peregrinação. Lisboa: Guerra & Paz, 2010.
MAGALHÃES, J. M. Os dois crepúsculos: sobre poesia portuguesa actual e outras crônicas. Lisboa: A regra do jogo, 1981.
SENA, J. de. Poesia 1 (obras completas). Edição e coordenação Jorge Fazenda Lourenço. Lisboa: Guimarães, 2013.
SENA, J. de. Poesia III. Lisboa: Edições 70, 1989.
SENA, J. de. Trinta anos de Camões I – 1948-1978 (Estudos camonianos e correlatos). Lisboa: Edições 70, 1980.
SILVEIRA, J. F. da. Uma cadeira para assistir ao século XX: reflexões sobre a poesia de Jorge de Sena Verso com verso. Coimbra: Angelus Novus, 2003. p. 257-290.
NOTAS
1 Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana, MG, Brasil.
2 SENA, 2013, p. 567.
3 Revista literária com três edições, editada em Lisboa entre 1940 e 1942, na qual Jorge de Sena foi editor e diretor dos números 2 e 3.
4 Série II, Fascículo VI
5 A denúncia dessa profanação da guerra via utilitarismo capitalista pode ser vislumbrada também no “Em Creta com o minotauro”, poema de em Peregrinatio ad loca infecta (1969), do qual destaco alguns versos: “Com pátrias nos compram e nos vendem, à falta/ de pátrias que se vendam suficientemente caras para haver vergonha/ de não pertencer a elas”. O próprio humano passou a ser objeto de comercialização.
6 Disponível em: https://www.museodelprado.es/coleccion/obra-de-arte/el-3-de-mayo-en-madrid-o-los-fusilamientos/5e177409-2993-4240-97fb-847a02c6496c. Acesso em: 19 mar. 2021.
7 Cf. BERARDINELLI, Cleonice. Ourique, Salado e Aljubattota. In: BERARDINELLI, Cleonice. Estudos Camonianos. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 57-70.