Neste artigo, Lucas Laurentino põe Jorge de Sena em diálogo com a filósofa Hannah Arendt a partir do trabalho e do consumo como categorias determinantes da vida social. Abordando a problemática do Antropoceno, uma era geológica em que o mundo é afetado diretamente pela intervenção humana, uma ideologia de progresso que trata a Terra como uma imensa fonte de recursos a serem explorados infinitamente, e a mercantilização da arte e do artista, o autor discute as questões levantadas por Sena em dois poemas muito significativos: “Ode ao livros que não posso comprar” e “Lamento de um pai de família”.
Lucas Laurentino
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é um desdobramento da dissertação de mestrado Lampejos nos tempos sombrios: Hannah Arendt e Jorge de Sena, que defendi em setembro de 2020, sob a orientação do Prof. Dr. Jorge Fernandes da Silveira. A pesquisa consistiu em uma aproximação ensaística dos referidos autores, a fim de discutir como o domínio do conhecimento e da criatividade humana compreende tanto as ciências quanto as artes, e as possíveis consequências políticas e sociais da interdição do diálogo entre essas áreas. Assim, procedi um entrecruzamento, abordando a poesia de Jorge de Sena como ensaística e os ensaios de Hannah Arendt como poéticos.
A data da defesa é significativa, pois vivíamos o sexto mês de uma pandemia que ainda não terminou e que provocou uma verdadeira calamidade no Brasil. Em se tratando de um acontecimento que a maioria das gerações vivas não havia experienciado, a pandemia abalou profundamente todos os níveis da nossa vida social e cultural, do trabalho ao lazer, da circulação de pessoas e mercadorias às interações cotidianas. Escrevendo um texto acadêmico que refletia sobre a linguagem e o pensamento humanos em suas diversas vertentes, não pude me furtar ao contexto histórico em que me vi inserido.
De certa forma, este trabalho carrega traços de um período novo na História, em que o alto desenvolvimento técnico-científico encontra uma situação de emergência biológica global. No entanto, o objeto a ser analisado é o consumo, segundo as perspectivas de Hannah Arendt e Jorge de Sena. Evidentemente, a pandemia e seus desafios aparecem como pano de fundo na discussão acerca de como se constitui o consumo nas sociedades modernas e contemporâneas e seus impactos na vida humana e do planeta.
Assim, comentarei a abordagem arendtiana da categoria trabalho, elaborada na obra A condição humana, e sua relação com os ciclos de produção e consumo que passaram a determinar o ritmo das sociedades a partir do século XIX. Depois, articularei os pontos levantados com questões atuais, como os conceitos de Antropoceno e Capitaloceno. Então, discutirei os modos de nos relacionarmos com a arte, especificamente a poesia, a partir de dois poemas de Jorge de Sena, destacando a ideia de “consumir” arte e a figura do poeta enquanto sujeito submetido aos mesmos problemas que o trabalhador comum, como a falta de dinheiro.
HANNAH ARENDT E A CONDIÇÃO HUMANA
Em A condição humana, publicado em 1958, Hannah Arendt escreve sob o impacto de dois eventos com o potencial de alterar a condição humana: o lançamento do satélite soviético Sputnik I em outubro de 1957 e o advento da automação. O primeiro diz respeito à noção de que o ser humano é uma criatura terrestre e tudo o que fez e pensou ao longo de milênios tinha isso como aspecto imutável da existência. O segundo diz respeito à complexa e variada relação entre os seres humanos e o trabalho, tido tradicionalmente como signo da precariedade da vida humana, mítica punição divina, mas que, a partir do século XX, parece estar em vias de extinção, a partir da perspectiva de que os robôs se encarregarão de toda a atividade laboral.
Para analisar esta situação, tendo em vista tanto os movimentos e regimes totalitários quanto as bombas atômicas, Arendt empreende uma fenomenologia da vita activa, investigando as suas três categorias basilares: trabalho, obra e ação. Tal análise abarca a história da filosofia política, as revoluções científicas dos séculos XVII e XX, assim como realiza incursões no âmbito da sociologia e da filosofia da ciência. O resultado é uma obra complexa e multifacetada, ambiciosa e provocativa.
Em resumo, tais categorias consistem em três aspectos da condição humana, associadas a três qualidades próprias do ser humano. O trabalho expressa a dimensão da necessidade, o ser humano enquanto ente biológico, a humanidade como espécie; a obra expressa a cisão entre o mundo natural e o mundo humano, este construído por meio da transformação de matérias-primas em objetos duráveis que têm como principal função aliviar a carga de trabalho; a ação expressa a dimensão do ser humano enquanto produtor de linguagem e discurso, capaz de se relacionar com seus iguais por meio da narração de histórias e da manutenção de uma memória coletiva. Ao trabalho, corresponde o animal laborans; à obra, o homo faber; à ação, o homem de ação.
A disposição dessas categorias segue uma hierarquia baseada na visão grega clássica da política. O trabalho, pelo seu componente fisiológico atrelado à esfera da necessidade, era visto como a atividade menos humana, logo, a menos valorizada. A obra, por seu turno, alçava o ser humano ao posto de senhor da Terra, capaz de dominar todas as etapas do processo de fabricação. O modelo para essa atividade era o artesão, que idealizava e executava o projeto de uma cadeira, por exemplo, transformando a madeira em algo novo, marcado pelas mãos humanas. Já a ação era a mais valorizada porque constituía a atividade política por excelência, ocorrendo entre iguais e conferindo sentido às vidas individuais dos atores políticos.
Acontece que a Era Moderna, de acordo com Arendt, iniciada por volta do século XVII, abalou profundamente os estatutos dessas categorias, modificando as suas relações internas e fazendo com que uma adquirisse aspectos de outra. Esse processo levou séculos, chegando ao seu ponto culminante apenas na virada do século XIX para o XX. Ainda segundo Arendt, três foram os eventos que marcaram o início da Era Moderna e estão diretamente ligados às mudanças na vita activa: o cercamento dos campos na Inglaterra, a expansão marítima europeia, que acarretou a colonização dos outros continentes, e a invenção do telescópio.
Das consequências desse processo, destaca-se a promoção do trabalho para o topo da hierarquia, e a expansão de suas categorias internas para vários aspectos da vida humana que até então permaneciam resguardados de sua influência. O trabalho, entendido pela filósofa, sempre esteve associado a penas e dores, o que é atestado pela etimologia da palavra em diversas línguas europeias, como o português. Isso se dava porque ele opera na dimensão mais concreta da experiência de existir enquanto organismo vivo. Trabalhamos para sobreviver, para prover as nossas necessidades mais básicas, sobretudo a de alimento. Dessa forma, o trabalho é cíclico e interminável, pois, enquanto estivermos vivos, precisaremos suprir essas necessidades. O que o trabalho produz é o bem de consumo, que restaura a força vital e permite que se continue trabalhando. Por isso, a vida útil de um bem de consumo é extremamente limitada, existindo apenas por tempo suficiente para nos sustentar até a produção do próximo bem de consumo.
A circularidade do trabalho reproduz a circularidade da própria Natureza, com seu tempo que não conhece nem começo e nem fim. É o ciclo do dia e da noite, das estações, dos anos. Assim, a vitalidade do trabalho, sua capacidade de renovar-se infinitamente, foi fundamental para que essa atividade se tornasse o padrão da existência humana no século XIX. A combinação entre trabalho, regido pelos limites da biologia, e ação, de potencial ilimitado, desencadeou um processo de expansão contínua do trabalho, que deixou de funcionar circularmente e passou a funcionar em espiral, com a circunferência aumentando cada vez mais, até engolfar todo o mundo na sua dinâmica de produção e consumo. Este processo é chamado por Arendt de “artificial crescimento do natural”:
A promoção do trabalho à estatura de coisa pública (…) liberou (…) esse processo de sua recorrência circular e monótona e transformou-o em progressivo desenvolvimento, cujos resultados alteraram inteiramente, em poucos séculos, todo o mundo habitado.
O domínio social, no qual o processo da vida estabeleceu o seu próprio âmbito público, desencadeou um crescimento artificial, por assim dizer, do natural; (…)
O que chamamos de artificial crescimento do natural é visto geralmente como o aumento constantemente acelerado da produtividade do trabalho. (ARENDT, 2016, p. 57-58)
Apesar de tradicionalmente Arendt não ser lida como uma pensadora da ecologia, a expressão “artificial crescimento do natural” pode ser elaborada conceitualmente à luz das recentes interpretações sobre a catástrofe climática. Termos como Antropoceno e Capitaloceno estão sendo desenvolvidos como referenciais teórico-críticos para se pensar de que maneira chegamos ao ponto em que a atividade industrial impacta a dinâmica geológica e climatológica global. Nessa linha, o termo Capitaloceno passou a ser utilizado como crítica a uma ideia homogênea e fatalista de humanidade que o termo Antropoceno comporta, ao entender o desastre climático como resultado das ações humanas em geral, sem especificar culturas ou modos de produção. Dessa forma, o Capitaloceno lança luz para uma eco-história do capitalismo, mostrando que esse é indissociável de uma forma de compreensão da Natureza e do ser humano nela inscrito. “A acumulação infinita de capital e a apropriação interminável da Terra são dois lados da mesma moeda. Aquela é impensável sem a outra.” (MOORE, apud BARCELOS, 2019, p.12).
Assim, o “artificial crescimento do natural”, conforme posto por Arendt, indica que a expansão do trabalho no paradigma capitalista ao mesmo tempo transformou os trabalhadores em repositórios renováveis de força de trabalho, necessária para manter o ciclo funcionando em aceleração, e transformou a Terra em uma gigantesca fonte de matérias-primas, cujo único papel é fornecer os recursos necessários para sustentar o processo de produção e circulação de capital. A essa altura, o trabalho expandiu-se de tal maneira que tudo é passível de virar bem de consumo, pois o objetivo de todas as coisas é retroalimentar o processo. Consumir, então, passou a ditar as relações entre os humanos e o que os rodeia, sejam entes naturais, sejam outros humanos, o sagrado ou a arte.
JORGE DE SENA: O POETA, O TRABALHADOR
Jorge de Sena é um poeta que se ocupa da dimensão material da existência. Isso implica dizer que raramente a sua poesia volta as costas para o mundo humano, com seus problemas e contradições. Obras como Metamorfoses (1963) e Arte de música (1968) são exemplares de uma poética definida por ele mesmo como testemunhal. Não é de surpreender, portanto, que encontremos poemas que versem sobre desigualdades, injustiças, violências e diversas outras questões incontornáveis para alguém disposto a encarar o humano em todos os seus aspectos.
Para ele, a poesia não deixa de carregar consigo os problemas que permeiam a vida das pessoas. Ela não é um dom divino conferido a gênios eleitos, mas sim uma atividade criadora, reflexão meditativa sobre a existência humana no mundo e suas interações. Portanto, ela só pode ser produzida se houver condições materiais favoráveis. O poeta, não sendo uma figura superior, precisa sobreviver concretamente, ter o seu “ganha pão”. E, num mundo regido pela lógica do consumo, a arte e o artista também são afetados. Daí Sena muitas vezes identificar o poeta ao trabalhador. Nesse caso, o trabalho é entendido duplamente: a expressão da criatividade humana e a exploração desumana da força de trabalho. Para a primeira acepção, há poemas como “Os trabalhos e os dias”, de Coroa da terra, em que o exercício poético é identificado com o trabalhar. Para a segunda, há casos como “Ode aos livros que não posso comprar”. Este se inicia da seguinte maneira:
Hoje fiz uma lista de livros,
e não tenho dinheiro para os poder comprar.
É ridículo chorar falta de dinheiro
para comprar livros,
quando a tantos ele falta para não morrerem de fome.[1]
Nesses versos, Sena explicita o drama banal de um sujeito comum, não ter dinheiro para comprar livros, e, simultaneamente, expõe o silêncio que recai sobre aquilo que não falta: dinheiro para se alimentar. No jogo entre o dinheiro que falta e o que basta, há mais do que a pretensa hipocrisia de um homem que reclama de não poder comprar alguns livros quando muita gente não pode comprar comida. O dinheiro é ressaltado como elemento igualador de tudo, seja para adquirir livros, seja para adquirir alimento. Essa equivalência total, ou seja, tudo passa a ter um preço medido segundo os mesmos parâmetros, proporciona uma consequente equivalência nos modos de se relacionar com as diversas dimensões da vida. Consome-se comida, consomem-se livros, consome-se poesia. A partir desse lugar incômodo, entre o conformismo de não ser um faminto e a inconformidade de não ter aquilo que deseja, o eu-poético é capaz de dizer:
Mas também é certo que eu vivo ainda pior
do que a minha vida difícil,
para comprar alguns livros
– sem eles, também eu morreria de fome,
Há outra fome, tão urgente e necessária quanto a de comida. E é desta que o sujeito se vê morrendo por conta da falta de dinheiro. Se o trabalho, segundo a perspectiva arendtiana, é a atividade que supre as necessidades básicas da vida, o que Sena parece apontar nesses versos é que a vontade de arte também é necessária ao ser humano, que este não pode ser reduzido apenas à dimensão biológica, porque existe essa fome de livros não satisfeita e sem eles a vida é insuportável. De acordo com Beatriz Helena Souza da Cruz:
Num sistema baseado na propriedade privada dos meios de produção e acumulação de bens materiais, no qual autor e obra estão inseridos, pretende-se que o dinheiro opere tal como a chave que abre todas as portas. Sua ausência ou insuficiência cumpre, assim, o papel de instalar o espaço da pobreza material, e denunciar a desigualdade social em que se estrutura uma sociedade. Sena a desmascara, no entanto, em “Ode aos livros que não posso comprar”, pois comparar a necessidade de comprar livros com a necessidade de comprar comida atenta para o quão limitada pode ser uma existência quando somente importa atender às necessidades de manutenção do corpo. (CRUZ, 2019, p.41-42)
Assim, o que se destaca neste poema é a impossibilidade de dissociar a vida material da experiência artístico-poética. Isso porque o poeta vive num mundo em que todos os valores são regidos por uma abstração, o papel-moeda, que serve para se adquirir alimento e cultura. Nesse caso, os famintos de arte não são menos desvalidos que os famintos de comida. Em ambas as situações há uma falta que encolhe a vida, tornando-a menos humana. No entanto, ainda estamos diante de um poema, e o eu-poético recusa a ideia quase imediata de que essas duas fomes são iguais: “É ridículo chorar falta de dinheiro/ para comprar livros/ quando a tantos ele falta para não morrerem de fome”.
Ainda que, no mundo moderno, o ato de consumir possa ser aplicado a todas as coisas, a “Ode aos livros que não posso comprar” surge como linguagem de resistência, pois é um poema que incorpora um dilema cotidiano, quase banal, e o transforma em reflexão sobre os modos de se relacionar com um objeto em particular, o livro. Este pode ser entendido metonimicamente, indicando a própria literatura, a poesia e a arte em geral. O resultado é uma obra que resiste à apropriação pelo consumo, se recusa a alimentar o ciclo de exploração do trabalho. Pelo contrário, ela procura inverter a ideia de satisfação das necessidades, mostrando que a experiência humana ultrapassa a dimensão biológica, portanto as necessidades são sempre maiores do que o consumo pode oferecer.
De modo análogo, porém numa chave bem mais agressiva, temos o “Lamento de um pai de família”, poema violento em que a figura do poeta enquanto sujeito civil se projeta:
Como pode um homem carregado de filhos e sem fortuna alguma
ser poeta neste tempo de filhos só da puta ou só de putas
sem filhos? Neste espernear de canalhas, como pode ser? [2]
O poema se abre com esta pergunta tão pouco “poética”. É válido notar que nesses versos há uma cisão entre o homem e o poeta. Isso reafirma o que foi dito anteriormente sobre a obra de Jorge de Sena desmistificar a figura do poeta, não um ser sobrenatural, superior aos meros mortais, mas uma pessoa como as outras, que medita e cria através de palavras. Dessa forma, para ser poeta, um homem precisa ter as condições básicas de vida atendidas. Como, então, fazer poesia, pensar em poesia, quando se tem contas a pagar e filhos para criar? Pior, como exercer essa atividade artística quando se vive cercado por “filhos da puta” que transformaram tudo em mercadoria?
Desse questionamento mordaz se segue uma lista de ocupações “mais vantajosas” do que a de poeta:
Antes ser gigolô para machos e ou fêmeas, ser pederasta
profissional que optou pelo riso enternecido dos virtuosos
que se revêem nele e o decepcionado dos polícias que com ele
não fazem chantage porque não vale a pena. Antes ser denunciante
de amigos e inimigos, para ganhar a estima dos poderosos ou
dos partidos políticos que nos chamarão seus gênios. Antes
ser corneador de maridos mansos com as mulheres deles fáceis.
É interessante notar como tais atividades estão relacionadas ao trabalho enquanto exploração. De um modo ou de outro, a pessoa vende a si mesma para ganhar dinheiro, transformando o próprio corpo (no caso do gigolô) ou o próprio caráter (no caso do denunciante) em bens de consumo. Outras ocupações se seguem a estas, numa sucessão cada vez mais absurda. Mas o que todas sugerem é que ser poeta não dá dinheiro. E, no tempo dos “filhos da puta”, nada que não dá dinheiro vale a pena.
Desse modo, o “Lamento de um pai de família” é uma constatação desolada do avanço totalitário da lógica de consumo, que mede todas as experiências humanas com a mesma régua. Não é possível resistir heroicamente ao “artificial crescimento do natural” sendo poeta. O poema é uma espécie de alerta, lembrando que a poesia não surge do nada e, sem as condições materiais para ser feita, ela pode desaparecer, quando todos os poetas decidirem fazer algo que dê dinheiro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que procurei evidenciar a partir do diálogo entre a expressão arendtiana “artificial crescimento do natural” e os poemas senianos que versam sobre dificuldades financeiras foi como a noção de consumo é interpretada por esses autores e quais contribuições eles podem dar para os problemas que enfrentamos no século XXI.
O tema do consumo está associado a questões urgentes, como mudanças climáticas, destruição de ecossistemas, poluição e desigualdade social. A pandemia de Covid-19 evidenciou o quão difícil é interromper esse modo de produção acelerada de bens de consumo. Esse evento explicitou de modo quase obsceno algo que Arendt destaca como a emancipação do trabalho, mas não da classe trabalhadora (cf. ARENDT, 2016, p. 57): as classes subalternas não só existem apenas enquanto força de trabalho, como também podem vir a se tornar empecilhos para que o sistema prossiga o seu curso. É preferível a morte de milhões de pessoas a atrasar o processo de acumulação de capital e apropriação da natureza.
A arte, mais especificamente, a poesia, se insere nessa discussão na medida em que ela também passou a ser vista segundo a lógica do consumo. O artista, sujeito concreto com necessidades materiais, se vê compelido a ingressar nessa lógica ou abrir mão da sua arte. A poesia de Jorge de Sena reflete sobre essa situação moderna e oferece a resistência da linguagem à sua mercantilização, ao mesmo tempo em que alerta que não há garantias no futuro. A poesia pode vir a desaparecer, levando consigo uma parte fundamental da experiência humana, se a lógica do consumo sobrepujar todas as resistências.
Espero que esse trabalho sirva para mostrar a atualidade dos pensamentos arendtiano e seniano e como o diálogo entre esses autores pode proporcionar reflexões significativas sobre a política, a filosofia, a literatura e o mundo contemporâneo.
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. Roberto Raposo. Revisão técnica e apresentação de Adriano Correia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2016.
BARCELOS, E. A. S. Antropoceno ou Capitaloceno: da simples disputa semântica à interpretação histórica da crise global. Revista Iberoamericana de Economía Ecológica. Vol 31, Nº 1, p.1-17. 2019.
CRUZ, Beatriz Helena Souza da. “Estes que se alugam para filmes/ da mais brutal pornografia crua”, Jorge de Sena e os trabalhos. Revista de Letras, São Paulo, v.59, n.1, p.33-49, jan./jun. 2019.
SENA, Jorge de. “Ode aos livros que não posso comprar”. Disponível em: <http://www.lerjorgedesena.letras.ufrj.br/antologias/poesia/o-dinheiro-em-poesia/>. Acesso em: 18 out. 2021
SENA, Jorge de. “Lamento de um pai de família”. Disponível em: <http://www.lerjorgedesena.letras.ufrj.br/antologias/poesia/o-dinheiro-em-poesia/>. Acesso em: 18 out. 2021
1 Disponível em: http://www.lerjorgedesena.letras.ufrj.br/antologias/poesia/o-dinheiro-em-poesia/
2 Disponível em: <http://www.lerjorgedesena.letras.ufrj.br/antologias/poesia/o-dinheiro-em-poesia/