Entre invocações ao demônio ou a Afrodite, entre inversões e palavras inexistentes ou não usuais, alguns poemas de Jorge de Sena propõem um jogo: decifrar o enigma, ou resistir à tentação de atribuir significado ao que insinua mas não diz?
- Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena (Metamorfoses, Poesia – II):
- “Na transtornância…” (Peregrinatio ad loca infecta, Poesia – III)
- “Átia cuí…” (Visão Perpétua)
- Homenagem a Sinistrari (1622-1701) autor de “De Daemonialitate” (Exorcismos, Poesia – III)
- Afrodite? Não (40 Anos de Servidão)
QUATRO SONETOS A AFRODITE ANADIÓMENA
Dentífona apriuna a veste iguana
de que se escalca auroma e tentavela.
Como superta e buritânea amela
se palquitonará transcêndia inana!
Que vúlcios defuratos, que inumana
sussúrica donstália penicela
às trícotas relesta demiquela,
fissivirão boíneos, ó primana!
Dentívolos palpículos, baissai!
Lingâmicos dolins, refucarai!
Por manivornas contumai a veste!
E, quando prolifarem as sangrárias,
lambidonai tutílicos anárias,
tão placitantos como o pedipeste.
Assis, 6/5/1961
Que marinais sob tão pora luva
de esbanforida pel retinada
não dão volpúcia de imajar anteada
a que moltínea se adamenta ocuva?
Bocam dedetos calcurando a fuva
que arfala e dúpia de antegor tutada,
e que tessalta de nigrors nevada.
Vitrai, vitrai, que estamineta cuva!
Labiliperta-se infanal a esvebe,
agluta, acedirasma, sucamina,
e maniter suavira o termidodo.
Que marinais dulcífima contebe,
ejacicasto, ejacifasto, arina!…
Que marinais, tão pora luva, todo…
Assis, 6/5/1961
Purília emancivalva emergidanto,
imarculado e róseo, alviridente,
na azúrea juventil conquinomente
transcurva de aste o fido corpo tanto…
Tenras nadáguas que oculvivam quanto
palidiscuro, retradito e olente
é mínimo desfincta, repente,
rasga e sedente ao duro latipranto.
Adónica se esvolve na ambolia
de terso antena avante palpinado.
Fimbril, filível, viridorna, gia
em túlida mancia, vaivinado.
Transcorre uníflo e suspentreme o dia
noturno ao lia e luçardente ao cado.
Assis, 14/5/1961
Timbórica, morfia, ó persefessa,
meláina, andrófona, repitimbídia,
ó basilissa, ó scótia, masturlídia,
amata cíprea, calipígea, tressa
de jardinatas nigras, pasifessa,
luni-rosácea lambidando erídia,
erínea, erítia, erótia, erânia, egídia,
eurínoma, ambológera, donlessa.
Áres, Hefáistos, Adonísio, tutos
alipigmaios, atilícios, futos
da lívia damitada, organissanta,
agonimais se esforem morituros,
necrotentavos de escancárias duros,
tantisqua abradimembra a teia canta.
Assis, 20/6/1961
Na transtornância impiala da firmusa
onde tão sulca de aridentes vem
a lúpida virónia damitem
que à fura imerna talifera e gusa,
alumibate a sintoscura etrusa.
Etrusa e tantimorta. E noctibem.
Como doriga e desinada quem
turidonada aflia a solidusa.
Regredassara detimura antrô-
temáqua adira apira escamivorta:
adominata incesca viridou
muldina igura talimen sigorta.
Nantida imbiva. Na primara andiata
e na danfia atedimasta aflata.
Araraquara, 5/8/1961
Átia cuí dolcema trazidara
fistidonuta abadimeta pi-
tchesta morícula dojafa ri-
namudirata san. Omenicara.
Culipensteva. Chu. Manfemipara
alidorista infétia surpe si.
Seilascha tóvia senimor duri-
pendónis. Trabilástia assundigara.
Temedilíngra fraduslampo pórtio
vacrisdo abábio fluditorme abura
ganitonu medânti coligesta.
Vilo. Ver. Pess. Abilituno. Górtio
te trislanfa trisicanfa adura.
Intradijamba calimora resta.
(08/12/1963)
HOMENAGEM A SINISTRARI (1622-1701)
AUTOR DE “DE DAEMONIALITATE”
Os homini sublime dedit, coelumque tueri
Iussit et erectos ad sidera tollere vultus (Ovídio, Met., I, 85-6)
Ó Belfagor Rutrem e Bafomet
Baclum-Chaam Sabazius Basiliscus
Mutinus Hautrus Chin Liber Strenia
Tchu-vang Tulpas Egrigors Churels
Lâmias Larvas Telazolteotl
Caballi Caballi Caballi Ca-
balli Caballi Caballi Caballi.
Melav oan em sonamuh euq
mim a edniv! Ó Laquiderme efiast!
Caste castina castinata cast!
Only he was heavie lyk a malt-sek
a hudge nature verie cold as yce. (Boguet, An Examen of Witches)
1970
AFRODITE? NÃO
Aderga de agastura atabafada,
aterma barafusta e por betado
compeça batocante de chapado
numa cenreira a custo destrinçada.
Cuspido ao pai na lança definhada
se dissingula, esmera, escarmentado,
escafedendo-se elegante ao lado
na falcatrua, mística lufada.
Forfante de incha e de maninconia,
gualdido parafusa testaçudo.
Mas trefo e sengo nos vindima tudo
focinho rechaçando e galasia.
Anadiómena Afrodite? Não:
Apenas Duarte Nunes de Leão
(1971)
=> Sobre os “Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena”, ver os comentários do poeta brasileiro Antonio Cícero (e de seus leitores) no excelente blog “Acontecimentos”: http://antoniocicero.blogspot.com/2008/03/jorge-de-sena-sobre-os-quatro-sonetos.html