A 11 de março de 1959, Jorge de Sena assistiu em Lisboa à peça Bajazet, de Racine, representada no Liceu Francês Charles Lepierre, e sobre ela escreveu uma crítica publicada em abril na Gazeta Musical e de Todas as Artes (reproduzida em Do Teatro em Portugal, Lisboa, Ed. 70, 1989). Mas, segundo depoimento de Mécia de Sena, ir ao teatro nessa noite significava ver e ser visto, e ter um álibi em relação ao "Golpe da Sé", cuja eclosão estava marcada para essa madrugada. Do fragmento — simples aide-mémoire telegráfico — encontrado no espólio, o título e palavras como "Sé", "Quartel do Carmo" etc. fazem-nos suspeitar de uma projetada peça (ou talvez um conto, como sugere Eugénia Vasques) em que as vivências do autor mais uma vez seriam testemunhadas.
Quoique le sujet de cette tragédie ne soit encore dans aucune histoire imprimée, il est pourtant très véritable. (…) Quelques lecteurs pourront s’étonner qu’on ait osé mettre sur la scène une histoire si récente (…). On peut dire que le respect que l’on a pour les héros augmente à mesure qu’ils s’éloigent de nous.
Racine – prefácios de Bajazet
BAJAZET
Racine – viagem para o apartamento
conversa no apartamento enquanto a conversa se desenrola
ele recorda:
reuniões, etc. compromisso, etc.
narração paralela (dado como a
correspondência
horária dos cál-
culos que eles
estão fazendo)
Jantar do A.
Sé
Ataq. de Alcântara
– caso de Belém
Quartel do Carmo
manhã no serviço, viagem de
automóvel para casa
O cartaz dizia:
Grande Circo Imperial Luso
Leões, Navegações, Naufrágios e Con-
quistas. Mártires e Heróis, todos os dias.
A descoberta do caminho marítimo para
a Índia, com o Infante D. Henrique e
Camões nas caravelas, ao domingo. São
Francisco Xavier, às quintas. Aljubar-
rota, à sexta, em matinée infantil. Palha-
ços, equilibristas, domadores, trapezistas.
Voos à Gago Coutinho. O grande
sketch, ao sábado, por toda a compa-
nhia: Oito Séculos e meio de História
Universal, com grande figuração de
negros, mouros, e indianos autênticos.
Nu artístico por indígenas do Brasil (em
sessão reservada aos homens e a mulhe-
res casadas acompanhadas pelos mari-
dos). Orquestra sinfónica, coros e baila-
rinas(os) do Estado Português, sob a
regência de vários maestros de categoria
internacional. Hinos patrióticos e fun-
ções folclóricas. Uma Pátria em Armas
exposta aos olhos do Futuro.