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Carta a Eduardo Lourenço, 6/7/1959

Lisboa, 6/7/959

                                                                                     Meu caro Eduardo Lourenço

    Não demorei tanto a responder à sua carta de 18, quanto V. possa julgar, porque me chegou às mãos atrasada. E escrevo-lhe hoje, porque só ontem soube, confirmada indirectamente pela Maria de Lourdes Belchior e pelos jornais que publicaram a lista dos convidados, cá a notícia que V. me dava. Mas agora passa-se o seguinte. Eu não recebi nem receberei comunicação alguma, que nem a Comissão Portuguesa ma manda, nem a Alta Cultura para onde a ilustre comissão enviou a lista se digna. Ora sem um papel que ninguém me dá não posso pedir licença ao meu Ministro para sair do País. Veja V. como os “maquiaveis” de bolso funcionam bem. Não será possível, só para achatar estes gajos, V. arranjar-me aí uma cópia autenticada, com o sêlo branco da Universidade, da lista? Por seu lado, a Panair do Brasil telefonou cá para casa a dizer que eu já tinha a passagem marcada e paga (por quem? – mistério).
   
De modo que, precisando de tratar de milhentas licenças – ministerial, militar, passaporte, visto, etc. – estou a um mês, sem poder fazer nada. E são tantos os trabalhos em mãos que ficam suspensos e que tenho de dispor para largar isto por cerca de 20 dias (pois não hei-de ir ao Rio?) que não posso dispor a minha vida nem des-dispô-la!
   
A lista, como veio publicada nos jornais (com todo o ar de provir da Comissão), varia muito de jornal para jornal. O Saraiva e o Joel não figuram nela (de resto, parece que o Joel não está numa lista dos que teriam passagem), e na do Diário de Notícias, que é a que o Prado Coelho viu, figura a Natércia Freire! Tudo uma macacada, que será devidamente orientada pelos Marcelos, como se verá.
   
Dê as minhas melhores lembranças e saudades ao Casais – e espero firmemente poder abraçar-vos em breve.

                                                                         Um grande abraço amigo do

                                                                                                       Jorge de Sena