Mais uma vez, George Monteiro nos oferece um poema inédito, de sua autoria. Este, datado de 1988, evoca dados da biografia de Jorge de Sena facilmente reconhecíveis e as praias de Santa Barbara, propícias a meditações. A versão em Português é de Luciana Salles.
SEA LEGS
Let the record speak.
Cadet Sena would not
climb the mast, swim
the sea, refrain from
talking, wash out his
his whites. Bad boy.
Indifferent ephebe.
Good scores, good
family, but yet not
right for Salazar’s
navy. Ouster is the
right move, while
other trainees move
from the Sagres
to a career in starches
and creases. Ditched,
but peering heights,
still leery of notions
of cleanliness next
to godliness, still
talking up a kid’s
storm, still naively
thinking literature
matters, he launches
a life and plies a trade.
Accumulating nations,
he seeds poems along
his track. In his sixth
decade Sena sheds his
whites, stifles chatter,
and hunkers down in
Santa Barbara to beach,
once and for all, a suite
of land/ sea thoughts.
Providence, RI
Oct. 2, 1988
ANDAR MARINHEIRO
Deixem falar os registros.
O cadete Sena não iria
escalar o mastro, nadar
no mar, abster-se das
palavras, lavar seus
uniformes. Menino mau.
Efebo indiferente.
Boas notas, boa
família, mas não
o bastante para a salazarista
marinha. Expulsar
é o correto, enquanto
outros formandos
partem da Sagres
para uma carreira em rigidez
e rugas. Rejeitado,
mas aspirando às alturas,
ainda desconfiado da noção
de limpeza perto da
divindade, ainda
falando intempestivamente,
ainda ingenuamente
acreditando que a literatura
importa, ele se lança
a uma vida e a um ofício.
Acumulando nações,
semeia poemas ao longo
do caminho. Em sua sexta
década, Sena recolhe as
presas, cala os discursos,
e se ancora em Santa
Barbara para naufragar,
de uma vez por todas, numa suíte
de meditações em terra/mar.
Trad. de Luciana Salles