O poeta expulso da República: prenúncios e rastros da História em Sinais de Fogo, de Jorge de Sena

vinheta_1936_figueira_foz_hora_banhoIntegrando uma espécie de dossier, aqui apresentamos mais um ensaio sobre Sinais de Fogo. Desta vez, a professora Flávia Nascimento* nos oferece uma outra abordagem do livro como “romance de formação”.

 

Preâmbulo

Quanto mais mergulho em minhas reflexões sobre Sinais de Fogo (1979)[1], mais palpável se torna, para mim, a convicção de estar diante de um dos maiores Bildungsroman jamais escritos na Europa, que nada deixa a dever, por exemplo, a duas outras obras-primas do gênero, frequentemente citadas: Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister [2] (1795- 1796), de Johann Wolfgang Goethe, e L’Éducation sentimentale (1869), de Gustave Flaubert. A despeito de suas diferenças, estes três romances escritos em línguas e em épocas tão diversas possuem certas características comuns, de relevância: todos narram, quer em 1a, quer em 3a pessoa, o processo de conscientização de si mesmo vivido por um jovem protagonista, e toda a duração da ação romanesca, seja ela mais, ou menos longa, restringe-se aos anos cruciais de formação do herói, para deter-se no momento em que este – chame-se ele Wilhelm, Frédéric Moreau ou Jorge – torna-se adulto e forja uma dada visão do mundo que lhe permite enfim encontrar um lugar de inserção na sociedade. Embora tenha me referido aos romances de Goethe e Flaubert, não é minha intenção, neste artigo, propor uma leitura comparatista destas obras, e as coincidências acima apontadas só o foram porque contêm, em si mesmas, a definição do Bildungsroman. Este, contrariamente aos grandes romances clássicos, de Cervantes a Proust, não conduz o herói até o término de sua vida – momento fatídico em que esta se transforma, por meio da morte, em “destino”, para repetir as palavras de André Malraux [3] – mas, sim, focaliza-se unicamente nos anos de sua infância e ou adolescência, isto é, no período de sua formação.

Quanto à utilização, aqui, da palavra alemã para referir-se a este gênero (ou sub-gênero, se se quiser), ela se explica, entre outras razões [4], pela riqueza polissêmica do vocábulo Bildung que, nas línguas românicas, pode exprimir noções tão diversas (e amiúde complementares) quanto: cultura, posição, educação, formação, libertação de preconceitos, imagem, refinamento de costumes, civilização. A mera tradução do termo composto alemão Bildungsroman como “romance de formação” esvaziá-lo-ia do duplo sentido que lhe é conferido pela ambiguidade estrutural contida no vocábulo Bildung [5], suscetível de dar conta, a um só tempo, da formação do indivíduo social e de sua formação interior, íntima. Pois é precisamente o exame de alguns aspectos desta interface, perceptível em Sinais de Fogo, que encetarei mais adiante, o que impõe, também, uma reflexão sobre as relações entre ficção e História tal como aparecem no romance. Neste volumoso texto, dividido pelo autor em cinco partes (contendo 43 capítulos), um narrador autodiegético – Jorge, um jovem pertencente à média burguesia lisboeta – conta as experiências que viveu durante pouco menos de dois anos. A data inicial da ação não pode ser dada com exatidão; na página 49 fala-se das férias de verão de 1935, assim compreende-se que a ação se inicia antes disso. A parte mais longa, porém, situa-se na Figueira da Foz, onde o narrador chega no dia em que eclode “uma Revolução”[6] em Espanha; sabe-se assim que se trata do dia 17 de julho de 1936, quando parte do exército daquele país, estacionado no protetorado espanhol do Marrocos, revoltou-se contra o governo republicano da Frente Popular, cuja vitória eleitoral em fevereiro do mesmo ano havia levado Manuel Azaña à presidência. Em seguida, o narrador, profundamente transformado pelas experiências vividas na Figueira, estará de volta a Lisboa antes do final das férias estivais. O encerramento da ação se dá no dia 9 de setembro de 1936, quando ocorre a revolta dos navios de guerra Dão e Afonso de Albuquerque, cujas tripulações, solidárias dos republicanos espanhóis, queriam sair do Tejo rumo a Espanha, a fim de tomar parte nos combates contra as forças franquistas. Vê-se que um acontecimento histórico bem real e datado, a guerra fratricida em Espanha, ocupa um papel central no romance (além de outros fatos históricos integrados à narrativa, como demonstra este resumo sucinto). Esta relevância que salta aos olhos lembra muito a propósito uma advertência de Todorov, para quem “o texto sempre contém em si mesmo uma indicação sobre seu modo de usar”7: neste caso, a utilização dos fatos históricos na trama romanesca aparece como um indício de peso a apontar na direção daqueles problemas a que acabo de aludir – as relações entre ficção e História – o que funciona, pois, como “modo de uso” para a leitura [8].

A exposição dessas observações preliminares era necessária, pois foi a partir delas que forjei um protocolo de leitura que visa a refletir sobre Sinais de Fogo levando em conta, precisamente, a “interface” de que falei anteriormente. Isto equivale a ver o romance como um duplo relato que conta simultaneamente o despertar da natureza íntima de Jorge (homem de Letras, poeta) e sua descoberta da sociedade em que vive (isto é, seu despertar como indivíduo social).

 

Marcas de historicização na narrativa

Se a eclosão da guerra em Espanha é o “sinal” mais eloquente do que se pode chamar de historicização das experiências narradas por Jorge, muitas outras marcas há, no texto, que merecem ser lembradas. Citarei oportunamente algumas delas, embora meu objetivo não seja o de fazer um trabalho sobre as fontes históricas utilizadas pelo autor. Quanto a isso, Mécia de Sena dá algumas indicações na Introdução que escreveu ao romance em 19839; ali informa também que JS começou a escrevê-lo, exilado no Brasil, em 1964; que o trabalho foi interrompido no ano seguinte, devido à mudança para os Estados Unidos e só foi retomado em 1967. MS chama a atenção para o meticuloso cuidado “na acumulação documental dos fatos onde JS iria inserir as pessoas e os acontecimentos”[10] que figuram em Sinais de Fogo, e informa o quanto o escritor pôde contar com a ajuda do amigo Luís Amaro que, por cartas, forneceu-lhe muitos dados, entre outros a data do comício do Campo Pequeno [11], que JS havia esquecido. Essas informações já são o bastante para deixar clara a intenção de historicizar a ficção, que era provavelmente motivada, no caso de JS, por sua própria concepção do trabalho literário, que pressupunha a “transformação ou criação estética da realidade”, utilizando para isto, inclusive, a “experiência pessoal (real ou virtual)”[12]. E este último aspecto também é importante, pois é sabido que JS afirmou, em carta a Eduardo Lourenço [13], o caráter de testemunho que quisera imprimir a Sinais de Fogo, e do qual um vestígio evidente pode ser visto no nome do herói, a coincidir assim tão flagrantemente com o do autor…[14]

A vontade de historicizar Sinais de Fogo é portanto manifesta. Contudo, a tela histórica esboçada no romance poderia ser comparada a um pano de fundo, isto é, um complemento que, mesmo investido de suma importância, jamais ocupa o primeiro plano da cena, e cuja nitidez pode variar no decorrer da ação, segundo a intensidade da luz que é projetada sobre ele. O que não contradiz o fato de a guerra civil espanhola ocupar neste romance um papel central, como disse anteriormente: sua eclosão é um marco divisor no texto porque desencadeia a tomada de consciência por parte do herói, mas afinal, trata-se de uma guerra ocorrida alhures: ela é muito mais anunciadora do que está por vir do que propriamente objeto do romance. Um “sinal”, é o que ela é – e os sinais nem sempre são totalmente límpidos – do futuro sombrio que se anuncia não só para Portugal, mas de resto também para a Europa, como bem o sabe o leitor de Sinais de Fogo hoje, como sabia igualmente JS no momento em que escreveu o romance, mas como apenas podia pressentir, vagamente, o fictício Jorge ao final de suas férias na Figueira em 1936… Assim, o que chamo de historicização – procedimento formal que contribui para dar forma e solidez aos personagens e à intriga – faz-se ora pela inserção concreta de fatos históricos na narrativa, ora tão somente por alusão mais ou menos velada a eles, ou seja: a densidade da historicização varia de acordo com a transformação interna que se opera no protagonista; de modo que, quando se comparam as três grandes partes em que se divide o romance15, constata-se que a nitidez das referências históricas aumenta à medida em que Jorge se vai tornando poeta e adulto. Seja como for, é a historicização do relato que permite ao leitor uma análise dos problemas sociais e ideológicos do Portugal em que evolui Jorge.

Alguns exemplos hão de permitir uma ilustração disso tudo. No primeiro deles, extraído do capítulo III [16], logo depois de informar ao leitor que a data de 11 de novembro, Dia do Armistício, não era feriado em Portugal e que “ninguém pensava nos mortos da Grande Guerra”, o narrador prossegue em sua explanação sobre a visão de mundo que tinha na época dos fatos narrados – visão esta que lhe fora inculcada pelo liceu e por sua família, e na qual se afirma claramente um caráter de classe:

“De política, nenhum de nós sabia nada. Era como se tudo o que vinha nos jornais se passasse a séculos e milhares de quilómetros de distância. As nossas famílias não se interessavam por política, senão em termos de “Ordem”, e louvavam-se da paz que o governo impusera a um país em desordem. Qual seria esta desordem e como era a ordem que o governo impunha, nós não fazíamos grande ideia. Os jornais falavam às vezes do caos administrativo e financeiro do passado, enaltecendo as providências do governo. Este, a julgar pelos jornais, ocupava-se em inaugurar obras públicas – lanços de estrada, chafarizes, casas do povo de não sei onde –, a propósito das quais eram invariavelmente recordados Afonso Henriques, Nun’Álvares, Vasco da Gama, e outros heróis menores. Mas as transcendências do orçamento e da dívida pública ultrapassavam de muito as especulações das nossas famílias da média ou da alta burguesia. A “ordem” era o contrário de haver “revoluções”. Eu não me lembrava pessoalmente dessas revoluções do passado, que, na minha casa, se consubstanciavam no escândalo de uma criada, em 1910, quando do 5 de Outubro, ter assomado entusiasmada à varanda, para saudar com vivas os revolucionários que passavam. (…) Na minha infância, ainda houvera “revoluções que eram, para mim, inseparáveis de passarmos dois ou três dias no quarto interior e escuro da casa (…). Depois, as revoluções tinham efectivamente acabado, ou abortavam longe e em silêncio, esmagadas suplementarmente pela severidade dos periódicos (…)”[17]

Vê-se que as alusões históricas, embora presentes, são de fato vagas, o que se justifica pela inconsciência em que vivia Jorge naquele momento, e também porque esse passado nacional mais distante lhe tinha sido transmitido por terceiros (escola e família). Assim a palavra “revoluções”, utilizada no plural, remete indistintamente, de maneira velada, a episódios distintos da conturbada história de Portugal anteriores, inclusive, à data provável de nascimento do protagonista (esta não é indicada, mas Jorge certamente nasceu entre 1916 e 1918 [18]). Tais episódios, não designados claramente, entram no texto como uma nebulosa, mas o leitor que se der ao trabalho pode enumerar rapidamente alguns deles: a primeira tentativa de implantação da Répública, em 1891, o período que se segue de grande instabilidade política e econômica – de “desordem”, segundo a família de Jorge – que deixa o país à beira da bancarrota, os movimentos de agitação nas universidades (1903, 1907), as greves operárias diversas (1903), a nova tentativa de abolição da Monarquia seguida, no mesmo ano, do duplo regicídio de D. Carlos I e do príncipe herdeiro Luís Filipe (1908) e, enfim, o dia 5 de outubro de 1910, claramente indicado, ano em que Portugal se torna o terceiro país europeu a adotar o regime republicano [19], de que a família de Jorge, ao que tudo indica, não era partidária. Uma parte destas imprecisas “revoluções” remete também ao período de instabilidade pós- República, que desembocaria no golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 e no salazarismo (instauração da “ordem”), e que é igualmente repleto de episódios conturbados, alguns antecedentes, outros coincidentes com a infância do narrador: greves parciais ou gerais (1911, 1914, 1918, 1922), tentativa de restauração da monarquia (1912), revoltas populares contra as forças da ordem (1916), situação política e econômica caótica com crise inflacionária incontrolável e racionamento de víveres, assassinato do presidente Sidónio Pais (1918), seguido do agravamento da crise generalizada, etc., lista que está longe de ser exaustiva.[20]

A seguir o narrador continua traçando um panorama político-histórico, porém mais amplo. Passa a tecer comentários sobre a Europa, comentando aspectos que, a este respeito, haviam sido discutidos no liceu: a guerra da Etiópia [21] e o Anschluss, por exemplo. JS comete aqui um surpreendente erro de datação histórica, pois a anexação da Áustria pela Alemanha nazista, que ainda não havia ocorrido, dar-se-ia apenas em março de 1938! Mas todo esse trecho é riquíssimo de sentidos. Nele o narrador explica que, embora se falasse naquela época do Anschluss, não se dizia grande coisa da ascensão de Hitler (chanceler desde 1933) que, segundo Jorge, já começava então a ser conhecido. Quanto a Mussolini, diz que era “muito louvado oficialmente, (…), pela sua autoritária organização do progresso da Itália.”[22] Logo após aparece uma comparação interessantíssima entre o Anschluss e a invasão da Etiópia pelos italianos. Quando o leitor lê a frase: “Todavia, a guerra da Etiópia não era o mesmo que o Anschluss…”[23], conclui, de início, que um destes dois fatos deveria ser considerado de maneira pelo menos mais negativa que o outro e imagina, naturalmente, que o fato menos grave, do ponto de vista de um português, talvez fosse a invasão da Etiópia, país, afinal, localizado em outro continente, ao passo que o Anschluss se passava em plena Europa, num país muito mais próximo de Portugal… Mas esta primeira leitura é totalmente desmentida pelo trecho seguinte:

“Que se unissem povos da mesma língua e da mesma raça, não nos parecia coisa por aí além. Que se atacassem o Negus e os “ráses”, que o noticiário apresentava habilmente na contradição de serem uns selvagens quase antropófagos, que se recusavam às delícias do progresso, em nome de uma independência que datava de Salomão e a Rainha do Sabá ( e todos nós conhecíamos, de nome, muito mais a Etiópia do que a Áustria, já que esse país figurara nas pompas onomásticas dos reis de Portugal, que sabíamos de cor desde a escola primária), eis o que era, sem dúvida, uma agressão.”[24] (p. 55)

Eis o que explicava, segundo o narrador, a diferença entre a anexação da Áustria pela Alemanha e a invasão da Etiópia pelos italianos. Não se tratava, evidentemente, de uma qualquer sensibilidade anti-colonialista, como aliás fica claro devido à menção às “pompas onomásticas dos reis de Portugal”. A razão do agastamento português para com a invasão daquele país estava no fato de que os italianos não tinham sido os verdadeiros descobridores da Etiópia: “(…) como nós o havíamos sido de tudo e o éramos da Etiópia também.”[25] Em todo esse trecho remarcável do romance, no qual a historicização continua a ser feita de maneira velada, aparecem, nas entrelinhas, muitos elementos dignos de nota. Primeiramente, o ressentimento português, exacerbado desde o Ultimatum da Inglaterra, que arrebatara em 1890 aos portugueses o “direito histórico” de posse sobre grande parte dos territórios africanos, em nome do princípio de ocupação efetiva, pelos ingleses, dos mesmos. Também insinua-se aí algo daquela sensibilidade insular de Portugal, este “rosto com que a Europa fita o Ocidente”[26] – para retomar uma imagem de Fernando Pessoa – país que muitas vezes se sentiu mais afastado do continente europeu do que das terras ultra-marinas. E nos dois trechos acima citados, pode-se ver sobretudo toda uma memória impregnada de ideologia, construída através da recuperação e da instrumentalização do “glorioso” passado português, tarefa à qual se consagrou, desde seus primeiros anos, o regime salazarista, notadamente pela promoção de novas práticas educativas, cruciais, como se sabe, no estabelecimento de uma nova ordem política e social [27]. Assim é que os nomes de Afonso Henriques, Nun’Álvares e Vasco da Gama, todos eles objeto de fervoroso culto por parte da juventude salazarista porque representativos das glórias de Portugal, aparecem como um eco significativo da memória histórica oficial, tal como a aprendia, nos bancos da escola, o jovem narrador, a quem se ensinava também que os portugueses – e apenas eles – eram os “verdadeiros descobridores de tudo” [28]. A instrumentalização da história pelo regime visava, entre outras coisas, apresentar a “revolução” de 28 de maio de 1926 como o início de uma renascença da grandeza nacional fundamentada na vasta herança histórica de Portugal [29].

Proponho agora a comparação das citações acima com outro excerto, colhido na última parte do romance, isto é, após o retorno de Jorge a Lisboa. Trata-se do relato da experiência vivida no “comício” do Campo Pequeno [30], realizado, como afirma um personagem, “em favor da revolução em Espanha” [31]. Motivado pela curiosidade, Jorge encontra-se no local, em companhia de Luís. Os dois amigos quase serão vítimas de linchamento, devido ao ódio de classe de um vendedor de bandeirinhas – personagem emblemático do lumpemproletariado – que não consegue vender sua mercadoria àqueles “meninos finos”, “bem vestidos”, “que não precisam de trabalhar” [32], razão pela qual os denuncia à multidão como comunistas. Com a palavra o narrador:

“As bandeiras não eram bandeiras, e sim uma composição delas: a portuguesa, a italiana, a alemã e uma bandeira com a Cruz de Avis, rodeavam todas a bandeira espanhola. E havia por sobre elas dizeres vários. O homem que as vendia era magro, muito moreno, com uma cara de fome e barba crescida, em que os olhos brilhavam irritados. Em mangas de camisa branca e suja, e calçando alpargatas rotas, trotava ao nosso lado, insistia agora em que o ajudássemos a viver, em que o salvássemos do prejuízo de não vender as bandeirinhas. E passou à ameaça: só os comunistas é que não compravam bandeirinhas daquelas.”[33]

Este exemplo mostra que a historicização da narrativa se faz agora de outro modo: um fato real é integrado ao texto e nele aparece manifestamente, e não sob o signo do ocultamento, como nos exemplos vistos anteriormente. O sentido disso é claro: já se operou, em Jorge, aquele processo de transformação que fez dele, ainda que apenas na medida do possível, um sujeito de sua própria existência. Nesse sentido também é notável o fato de a História acontecer agora diante de seus próprios olhos. Ele é quem a vive, quem reflete sobre ela e descreve o que presencia, contrariamente ao que ocorria nos exemplos anteriores, em que a memória do “glorioso passado português”, bem como a imprecisa história das “revoluções” de Portugal lhe tinham sido transmitidas por terceiros. Também é digna de nota, neste longo trecho que não posso citar todo aqui, a maneira como se faz a inclusão de Portugal no continente europeu: de um país em que sequer se comemorava o Dia do Armistício, data importantíssima da história da Europa pelo fato de marcar o término da primeira Guerra Mundial, Portugal se transforma em nação irmã de três outros países europeus – Alemanha, Espanha, e Itália – formando com os mesmos uma confederação… fascista. Há ainda outros exemplos cuja citação poderia ilustrar este ganho em nitidez dos fatos históricos integrados à narrativa, mas por falta de espaço, tenho que me limitar ao caso acima [34].

 

Sobre a metáfora ígnea do título

Este ganho em nitidez corresponde, pois, ao amadurecimento do herói, e ocorre ao final de seu decurso, quando se desvenda o sentido catastrófico do momento histórico e ideológico em que se inserem as experiências que viveu e está a viver. E a inteligência do mundo que o circunda não ficará limitada apenas ao contexto salazarista, abrangendo também indiretamente o contexto muito mais amplo de uma Europa em que já se faziam sentir, com a ascensão dos totalitarismos ibéricos, italiano e alemão, os primeiros “sinais de fogo” da Segunda Guerra mundial. É uma das possíveis interpretações para a metáfora ígnea que dá título ao romance. Como se sabe, o vocábulo “fogo” é rico em polissemia, mas aparece imediatamente ao espírito como uma imagem privilegiada para se referir à guerra. Na língua portuguesa o termo entra de fato na composição de numerosas expressões utilizadas no campo lexical relativo à artilharia. Uma rápida consulta ao dicionário de A. Houaiss revela, entre outros, os sentidos seguintes para “fogo”: “voz de comando para descarregar armas”, “entre dois fogos”, “fogo cruzado”, “fogo de proteção”, “fogo de bilbode”, “abrir fogo”, “bocas-de- fogo”. Quanto à outra palavra do título, “sinais”, cuja polissemia também é incontestável, duas de suas acepções parecem se revestir dum interesse particular no âmbito deste artigo. O verbete de Houaiss informa que “sinal” significa “movimento, gesto, manifestação que serve de advertência, ou que possibilita conhecer, reconhecer ou prever alguma coisa”. E que esta palavra também pode designar “aquilo que restou, vestígio, rastro”, bem como uma “impressão deixada por alguém ou algo, marca, traço”. Ora, a oposição expressa por esses dois sentidos da palavra “sinal” – um deles remetendo ao que está por vir, outro àquilo que já foi – parece encerrar um dos significados profundos do romance de JS. Assim, a conjugação dos vocábulos “sinais de fogo” designaria, por um lado, todas as marcas, todos os rastros ou vestígios da História contidos neste texto literário, e, por outro, os “prenúncios” do futuro sombrio que viveria a geração de Jorge, cuja vida adulta – e de poeta – transcorreria em pleno salazarismo. Aliás, não só, pois há incontestavelmente neste romance uma dimensão européia, e tais “sinais de fogo” referem-se ao que estava por vir não só para os portugueses, mas também para os alemães, italianos, espanhóis e, embora não apareçam explicitamente no texto, os franceses. Em suma: eram os prenúncios, no momento em que decorre a ação (o tempo interno do romance), das consequências que teria a ascensão dos totalitarismos europeus, anunciadora, como se sabe hoje, da Grande Guerra de 1939-1945. O duplo sentido de “sinais” confere deste modo ao romance uma circularidade: afinal, tudo aquilo que serviu ao fictício Jorge, “naquele tempo” [35] em que ocorreram os fatos por ele narrados, como advertência dos tempos difíceis que estavam por vir, transforma-se, de certa maneira, pelo milagre (no sentido etimológico desta palavra) da fabricação do texto literário, em vestígio do que foi, em rastro da experiência vivida. Perfaz-se deste modo o círculo em cujo centro encontra-se a estrutura arquetípica do Bildungsroman, isto é: a narrativa da saída da casa paterna [36], do processo de libertação da família e dos preconceitos por ela inculcados, sem o qual não há despertar para a idade adulta, nem como homem, nem como indivíduo social. E é preciso dizer que este modelo universal é revigorado por JS, porque Sinais de Fogo é um romance moderno, no sentido em que se vale dos procedimentos metalinguísticos como fonte de criação [37], ao narrar não só a passagem para a vida adulta, mas também o tornar-se poeta de Jorge.

 

O Poeta expulso da República

Jean Pouillon afirmou que a matéria fundamental do romance é o desenvolvimento temporal de um personagem apreendido em sua realidade psicológica e que as dificuldades encontradas pelo romancista devem-se fundamentalmente à busca da expressão (e não do estilo) de seu próprio objeto, que é a realidade humana que ele pretende descrever dum certo ponto de vista. Acrescento ao desenvolvimento psicológico de que fala Pouillon outro elemento fundamental, especialmente em Sinais de Fogo: a realidade político-social- ideológica em que se dá este desenvolvimento. Tal precisão permite compreender, aliás, porque este mesmo autor considerava também que, mesmo sendo um tanto exagerado supor que todo romance tem em vista o estabelecimento duma antropologia, ou mesmo simplesmente sua ilustração, nem por isso deixa de ser válido dizer que os problemas mais interessantes trazidos à tona por este gênero literário ganham sua significação mais plena quando vistos deste ângulo [38]. No caso de Sinais de Fogo, a inclusão do amplo panorama das origens, da evolução, do desenvolvimento material, cultural e psicológico do herói na narração dos momentos decisivos de seu amadurecimento vem ressaltar o caráter antropológico do romance de que falava J. Pouillon, que se torna particularmente expressivo na fôrma do Bildungsroman. Este, como já foi dito, termina no momento em que o herói, chegado à vida adulta e formado como indivíduo social, encontra seu lugar de inserção no mundo. Ora, ao final de seu desenvolvimento, é a inversão deste esquema tradicional que servirá de fecho ao romance, porque, como poeta que se torna, Jorge será expulso da República.

A palavra “República” não deve ser entendida aqui em seu sentido de uso corrente, mas sim naquele que lhe deu Platão em sua obra epônima, ou seja: Politeia, termo grego que etimologicamente significa “constituição” ou “forma de governo” de uma polis ou cidade- estado. É, pois, tudo o que diz respeito à vida pública de um Estado, incluindo os direitos dos cidadãos que o constituem. Não designa, por conseguinte, uma forma de governo determinada, isto é, o regime republicano, mas todas em geral [39]. Em Sinais de Fogo, a “República” é o regime salazarista, no seio da qual não há lugar para os poetas. Ignoro se JS estava consciente disso, mas o romance contém esta ressonância da célebre e malfadada prescrição da expulsão dos poetas, expressa por Platão nos Livros II, III e X da República. Jorge é salvo do quase linchamento do Campo Pequeno por um efêmero personagem que – significativa coincidência – além de poeta, também é um “velho Republicano”: aqui, a palavra aparece, num primeiro nível, em seu sentido atual, pois o personagem é de fato um adepto do regime republicano destituído pelo golpe militar de 1926. Isto não impede, no entanto, que se lhe acrescente, num outro nível de leitura, o sentido a que aludi acima, pois o velho poeta se define como um “sobrevivente”, que tem “sofrido muito”, devido a “perseguições, divisões, traições”, durante os últimos “dez anos”, isto é, após a instauração do governo militar “aliado ao clero e aos potentados”[40]. Encontra-se, pois, expulso de seu próprio país, essa “Politeia” totalitária e fascista em que se transformara Portugal.

Muito já se glosou sobre o sentido da expulsão do poeta preconizada por Platão, e motivada pelo fato de “o poeta imitador instaura[r] na alma de cada indivíduo um mau governo, lisonjeando a parte irracional” e incitando “sempre a forjar fantasias” que estão “a uma enorme distância da verdade.”[41] As razões da exclusão do poeta podem ser sucinta e fundamentalmente explicadas por dois motivos: primeiramente devido a uma questão relativa a certos aspectos formais da obra literária (desvalorização dos modos pelos quais o poeta “imita” a realidade); e em segundo lugar, devido à “imoralidade” dos assuntos tratados pelos poetas, isto é: em razão do conteúdo das obras, nem sempre suficientemente moralizantes mas, ao contrário, portadoras de uma incitação à virtude infeliz ou ao vício triunfante [42]. Esse último aspecto tocante ao conteúdo traz à mente o funcionamento dos regimes totalitários em sua necessidade vital de censura e encontra, portanto, um eco significativo em Sinais de Fogo. Seja como for, esta “expulsão” é o destino que se desenha também para Jorge, ao final do romance. Como indivíduo social, ele se descobre então como um ser à margem da sociedade de seu tempo: não compartilha do elogio à “ordem” em que se compraz sua família, nada tem a ver com a massa da juventude arrebanhada nas fileiras da Mocidade Portuguesa, nem tampouco com os “Viriatos”[43] que integram a Legião Portuguesa para combater ao lado dos franquistas. Expulso da República, pode-se dizer que o jovem poeta rompe com este mundo que o circunda, para adentrar e inserir-se num outro, que é aquele da República das Letras, em cujo céu sem fronteiras brilham os nomes de homens e mulheres como Florbela Espanca, Rosalía de Castro, Rubén Darío e Charles Baudelaire [44].

 

NOTAS:

1. Num ensaio anterior, propus uma reflexão sobre a convergência, neste romance, entre a tomada de consciência de si mesmo e a aparição da poesia na vida do protagonista, convergência esta que supõe uma correlação entre poesia e realidade; intitulado “Poiesis e auto-poiesis em Sinais de Fogo”, este artigo encontra-se no prelo no momento em que escrevo estas linhas ; será publicado no n° 19 da revista Scripta, CESPUC, Minas Gerais.

2. As datas correspondem respectivamente à publicação dos Livros I a VI e VII a VIII.

3. « La tragédie de la mort est en ceci qu’elle transforme la vie en destin. » Frase citada e comentada por B. Lortholary – que parafraseei aqui – na “Introdução” ao romance de Goethe (v. nota seguinte); acrescento que a frase encontra-se em L’Espoir (1937).

4. Tal escolha também se justifica pelo fato de este gênero ter tido uma fortuna especialmente rica na Alemanha, onde nasceu combinando raízes rousseaunianas (devido à recepção alemã do Émile e De l’éducation) e pietistas; foi também neste país que veio a lume o modelo principal do gênero, que é o romance de Goethe acima citado. V. a este respeito o instrutivo préfácio de Bernard Lortholary à tradução francesa do romance: Les Années d’apprentissage de Wilhelm Meister, Paris, Gallimard, 1999, pp. 7-31.

5. Sobre a Bildung, análoga também àquela noção expressa pelo termo grego “Paideia”, cf. G. Vattimo e J. Montenot, 2002, pp. 179-180.

6. p. 64. Todas as citações de Sinais de Fogo, de que indicaremos sempre apenas as páginas, são extraídas da edição apontada na bibliografia final.

7. T. Todorov, 1978, p. 184 : « Le texte contient toujours en lui-même une notice sur son mode d’emploi. » Devo acrescentar que aquilo que caracteriza a grande obra literária – e Sinais de Fogo está entre elas – é o fato de apresentar numerosos indícios que apontam em direções bem diversas… e permitem, portanto, múltiplas leituras.

8. Esta orientação de leitura, todavia, não deve consistir numa transposição mecânica dos fatos consignados pela historiografia de Portugal (e da Europa) no universo ficcional criado por Jorge de Sena – nem sequer estamos diante de um romance histórico, diga-se de passagem – pois isto consistiria em ignorar o status de ficção, de obra de arte, de Sinais de Fogo.

9. Esta sua “Introdução”, revista em 1995, consta da edição de Sinais de Fogo que cito na bibliografia final (pp.5- 26) ; indicarei aqui apenas suas páginas e, doravante, utilizarei, para Mécia de Sena, as iniciais MS e, para Jorge de Sena, JS. MS afirmou que tinha a intenção de publicar o dossiê contendo os minuciosos dados recolhidos pelo romancista para a composição do romance.

10. Idem, p. 22.

11. Voltarei a isto, mais adiante.

12. As palavras, citadas por MS, são do próprio JS (p. 22).

13. Correspondência citada por A. Cirurgião, 1991, p. 152.

14. Sem contar a manutenção das iniciais dos nomes de vários personagens, reais, portanto, e nos quais os modelos poderiam perfeitamente se reconhecer, como informa também MS (op. cit., p. 22).

15. Como disse, JS dividiu o romance em 5 partes, mas para analisá-lo é possível dividi-lo em 3, correspondentes ao esquema espacio-temporal Lisboa > Figueira da Foz > Lisboa. Compreenda-se, pois, a primeira parte como aquela anterior às férias e à eclosão da guerra; a segunda, situada na Figueira, como aquela do desencadear da tomada de consciência do mundo que o rodeia; e a terceira, como aquela em que Jorge surge transformado, de volta a Lisboa, adulto e poeta.

16. Ainda na 1a. parte.

17. Op. cit., pp. 53-54; todos os outros trechos sublinhados o terão sido também por mim, no intuito de chamar a atenção do leitor para o que está diretamente relacionado a meus propósitos.

18. O que é outro “sinal” importante do caráter de testemunho pessoal do relato (a que aludi anteriormente), pois o próprio JS nasceu em 02/11/1919.

19. Depois de França e Suíça.

20. V. Manuel do Nascimento, 2002, pp. 106-128.

21. Este país africano aparece aqui relacionado à Europa (o governo fascista italiano atacou a Etiópia em 1935).

22. p. 55.

23. Idem, ibidem.

24. Idem, ibidem.

25. Idem, ibidem.

26. Fernando Pessoa, 1928, p. 5.

27. A imprensa escrita portuguesa também teve um papel importante nesta tarefa, bem como o rádio.

28. Foram os portugueses os primeiros a chegar também na Etiópia, enviados por D. Manuel em missão diplomática junto ao soberano da Abissínia; o primeiro relato conhecido sobre aquele país foi feito por um português (Francisco Álvares, 1465-depois de 1540).

29. Esta intenção torna-se claríssima quando se lembra que os quatro grandes momentos históricos comemorados em grande pompa pelo salazarismo eram : 1139 (vitória contra os Mouros na batalha de Ouriques e auto- proclamação de Afonso Henriques como primeiro rei de Portugal), 1385 (vitória contra Castela na batalha de Aljubarrota, sob o comando de Nuno Álvares Pereira, e ascensão do Mestre de Avis ao trono português, que adota a partir de então o nome de D. João I), 1640 (restauração da independência de Portugal após sessenta anos de anexação por parte de Espanha) e… 1926 !

30. Trata-se da manifestação de 28 de agosto de 1936, realizada no Campo Pequeno em apoio ao governo de António Oliveira Salazar e organizada em resposta ao apelo dos sindicatos nacionais. Essa “comício”, se se acredita no que diz a imprensa da época, desencadeou uma adesão mais forte ao salazarismo, o que se traduziu por um aumento do número de voluntários para a Legião e a Mocidade Portuguesas.

31. p. 461.

32. P. 464.

33. p. 463.

34. Outro fato significativo, a que já aludi no início deste artigo, encontra-se no encerramento do romance, que integra mais um acontecimento real, ocorrido em 9 de setembro de 1936 : o esmagamento, pelas forças salazaristas, da revolta de membros da Marinha portuguesa que desejavam combater ao lado dos republicanos espanhóis.

35. O advérbio temporal “naquele tempo” é amiúde utilizado em referência ao tempo interno do romance, o que marca um distanciamento do narrador em relação aos fatos narrados. Isto aponta para as complexas questões suscitadas pelo tratamento dado ao tempo em Sinais de Fogo, assunto que não pode ser abordado aqui.

36. Aqui, esta “saída da casa paterna” é de natureza simbólica, unicamente, e diz respeito à ruptura vivida por Jorge, em seu foro íntimo, com os pais; isso é especialmente evidente em sua relação com a mãe.

37. Tratei dessa questão em meu artigo anteriormente citado.

38. J. Pouillon, 1946, pp. 7-34.

39. V. Maria Helena da Rocha Pereira, 1972, pp. V-LIII.

40. pp. 466-467. Segundo este personagem, os militares, os potentados e o clero queriam naquele momento fazer, em Espanha, a mesma coisa que “dez anos antes haviam feito à sorrelfa em Portugal.”

41. Platão, 1972, § 605a-605b, p.472.

42. G. Genette, 1979, pp. 7-82. Devo as explicações acima a este autor, que parafraseei aqui.

43. Corpo autônomo da Legião Portuguesa que combateu em Espanha ao lado das forças franquistas (criado precisamente em 1936) ; assim nomeado em homenagem ao herói dos tempos do domínio romano na península, o que é mais um exemplo de instrumentalização do passado português pelo regime salazarista.

44. Poetas citados no romance.

 

BIBLIOGRAFIA

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VATTIMO, Gianni e MONTENOT, Jean (org. de), Encyclopédie de la philosophie, Garzanti Editore, Librairie Générale Française, 2002.

 

* Flávia Nascimento é atualmente Professora-assistente Doutora da Unesp, campus de São José do Rio Preto. Quando publicou esse trabalho, era docente na Université de Rennes 2; esse artigo, juntamente com o outro da mesma autora aqui repertoriado, foi redigido por ocasião das aulas preparatórias que deu com vistas à preparação dos candidatos para os exames Capes (2004) e Agrégation (2005).